terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Saltitão e a tecla do Ç perdida



O Saltitão, gato da vizinha do prédio ao lado, desde muito pequeno começou a trepar muros, vindo em busca de aventuras e, sobretudo companhia, ter com o Bernardo, meu gato, não tão aventureiro.

Faziam assim uma boa parelha, explorando tudo e mais alguma coisa a que conseguissem chegar pelos muros e quintais nas traseiras e também entretendo-se a saltar para a rua quando apanhavam a janela aberta.

Por causa dele, tive de resto uma conversa que ainda recordo, na mercearia da esquina, onde, determinada vez me perguntaram: "não é para sua casa que o gato da minha mãe vai?" sendo a senhora em questão mais velha que eu.

Não faltando um dia para brincar (e comer...), testemunhou a chegada do Patas, gato que "aterrou" no quintal todo ferido (duas patas partidas, cheio de sangue) a quem tratei e que, numa primeira fase comia e ìa à sua vida. Mais tarde, e com todos de acordo, o Patas tornou-se inquilino cá de casa.

Voltando ao Saltitão, foi sempre o gato mais caçador, aparecendo de vez em quando, com um pardal na boca, o que me tirava do sério, mas a ele enchia de orgulho.

Quando a sua dona morreu o Saltitão fez as malas e, sem hesitar, apresentou-se à minha porta. De resto, a única novidade era realmente passar a dormir cá.

Tornou-se um gato um bocadinho mais carente, mas, como bom gato que era, disfarçava isso.

Ultimamente tinha a mania, como peso pluma que era, de se sentar em cima do teclado do meu portátil quando estava a funcionar, imagino eu para sentir calor. Foi durante uma dessas ocasiões que o teclado perdeu o revestimento da tecla Ç, já que, tentando eu tirá-lo de lá, o Saltitão inesperadamente resolveu agarrar-se às teclas, como se disso dependesse a sua felicidade.
Na escala dos afectos cá do bairro, o preferido é o Patas (o branco e amarelo) que passou de gato de rua a gato burguês, gordo e anafado. Esperto, usa o facto de ter ficado com uma pata defeituosa, para, com miados a quem passa, exigir constantes festas, que, de resto, retribui.
O Bernardo (o cinzento) primeiro gato e dono da casa é o mais conhecido. Pelo nome, pelo facto de insistir em visitar qualquer vizinho que deixe a janela da rua ou porta das traseiras abertas, mas também por disputar as festas a quem passa. Tem também a mania (pouco inteligente, mas é um gato com mau feitio) de lutar com cães.
O Saltitão sempre foi o mais discreto. O gato mais tipo gato, portanto. Saltava da janela e ìa à sua vida (normalmente ao talho ali da esquina pedir carne). As pessoas ainda o conheciam como o gato que era da dona Z., mas ele não se preocupava, instalava-se ao sol e não ligava a quem passava.

O Saltitão morreu hoje, depois de resistir meses a uma doença. Foi o último a chegar e o primeiro a partir.

16 comentários:

Eridanus disse...

... mas, com tal hospedeira, tenho a certeza de que viveu regalado e feliz :)

beijinhos!

Gi disse...

Oh Leonor. Sinto muito, sei da afeição que criamos com esses bichinhos, com esses companheiros que nunca reclamam. Criam-se laços quase como se de gente se tratasse e a sua partida é dolorosa.

Traçaste aqui um retrato do Saltitão de uma forma muito ternurenta. Repito o que o Eridanus disse, deve ter tido uma vida feliz contigo.

Um beijinho

(hoje já actualizei grande parte dos links que me faltavam,, o teu já lá está, aguardo outra "aberta" para os põr em ordem :) )

outro beijinho

Leonor disse...

ah, isso também me parece eridanus, nunca tive reclamações...

beijinhos

Leonor disse...

Obrigado Gi

eu sempre vivi com animais: em casa dos meus pais tivemos cães, piriquitos, peixes, uma tartaruga e hamsters, do que me lembro.
Agora tinha escolhido gatos, que era um animal que não conhecia bem.

Mas aprendi a gostar, e é como tu dizes, nunca reclamam e criam-se laços...

beijinhos

Outonodesconhecido disse...

Leonor gostei muito do teu post, apesar da triteza é uma linda história de vida. eu adoro felinos, tenho 2 gatos e nem imagino o que será quando eles partirem. Fazem parte da família. quanto a gatos e teclado, ou computador no geral (tenho portátil) sei bem do que falas. O meu gato pesa 9800kg e adora dormir em cima do teclado enquanto tento trabalhar; ela acha que faço muitas festas a outro animal qualquer (o rato) e como boa siemesa resolve atacar o pobre rato(já vou no 3º) e pôr a cabeça dela debaixo da minha mão. Aventuras...

Leonor disse...

outonodesconhecido

é, fazem mesmo parte da família, a pessoa habitua-se a contar com eles, a prever as suas necessidades e manias...

mas 9800Kg em cima de um teclado??? o meu pesava só 2500Kg... como é que o teu teclado e gato resistem? bom, não resistem...

Anónimo disse...

Olá, amiga
Fiquei com muita pena do Saltitão, sei que era um adoptivo muito querido...e acabou por ter uma boa vida, graças à dona extremosa que encontrou. Os bichinhos são como nossos filhos, não é?Afeiçoamo-nos a eles e eles retribuem generosamente, por vezes mais do que as pessoas. Se precisares de alguma coisa, conta comigo. Beijinhos grande,
Paula

Ka disse...

Lamento imenso Leonor...

Beijinho grande

Leonor disse...

obrigado Paula, o Bernardo e o Patas (que ontem estiveram um pouco mais carentes) agradecem e eu também

beijinhos

Leonor disse...

obrigado Ka, a vida vai acontecendo

Anónimo disse...

Olá Leonor
Fiquei triste com a tua notícia.
Agora o Saltitão saltita noutros teclados fazendo com eles a música das esferas celestes.
beijos para todos, os de 4 patas e a de 2.
Sofia

Leonor disse...

Olá Sofia

não há nada como a tua forma de ver as coisas, sim, certamente ele saltita noutros lados...
beijinhos

Anónimo disse...

e eu só vi agora... porque é que não disse nada? não precisou de ajuda?
como é que estão os outros gatos? e a dona?
bjs
veva

Anónimo disse...

Leonor, tenho muita pena...

Um grande beijinho!

Paulo

Leonor disse...

veva

não disse nada a ninguém, só publiquei o post.

estamos todos a procurar novos espaços

bsj

Leonor disse...

obrigado Paulo, beijinhos