segunda-feira, 31 de março de 2008

Liceus vs Escolas Secundárias



Eu fui daquelas pessoas que, tendo entrado para um Liceu, saí duma Escola Secundária, já que apanhei a reforma do ensino pós 25 de Abril da qual, aliás, fui cobaia, sendo o meu ano o primeiro da reforma.


Enfim, com ou sem reforma, se há coisa que me lembre do meu Liceu/Escola Secundária ou que associe a ensino de uma forma geral são certamente as imagens parietais que nele existiam, dos mais variados temas.



Foi assim com agrado que tomei conhecimento das eExhibitions., um projecto englobado no Inventário e Digitalização do Património Museológico da Educação levado a cabo pela Secretaria-geral do Ministério da Educação.


Porque o ensino também tem memória.

domingo, 30 de março de 2008

Formas de Acabar e Começar Bem a Semana



Com o Lago dos Cisnes

Não certamente com a versão clássica, para a qual, por muitas representações que veja, nenhuma me faz esquecer a que vi no Coliseu logo após o 25 de Abril…

Mas com os Les Ballets Trockadero de Monte Carlo dificilmente iria fazer a comparação.
Companhia fundada em 1974 nos Estados Unidos (apesar do nome) por bailarinos profissionais do sexo masculino, dedica-se ao ballet e dança contemporânea satirizando os grandes clássicos sem colocar em causa a qualidade técnica e artística dos mesmos.

Esta invulgar aliança entre dança e humor faz das suas representações momentos bem vividos, onde é difícil não deixar escapar o riso.

Uma boa forma de acabar e começar bem a semana. Aqui deixo um vídeo, para quem não viu ao vivo.


sexta-feira, 28 de março de 2008

As Inquirições gerais de D. Dinis em 1284: registar para administrar



Ao mandar inquirir, em 1284, nos julgados de Figueiredo, de Sever, de Cambra, de Fermedo e de Cabanões informações sobre as propriedades, os bens do rei e o que existia nas localidades de uma forma geral, D. Dinis estava, não só a dar uma sequência lógica às anteriores inquirições de 1220 e 1258, ampliando aliás esse registo visto que já era detentor de alguma informação , como também a proceder ao que chamaríamos actualmente o cadastro do Reino.

Contendo informações de carácter económico, administrativo, de índole social ou eclesiástica, passando pela onomástica e toponímia, em boa hora foram ontem trazidas a lume com Introdução, leitura e índices do Professor José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, em edição da Academia das Ciências de Lisboa.

Uma fonte essencial para a compreensão da época.

quarta-feira, 26 de março de 2008

O Futuro do Livro



Em livro mas não só…

Muito se discute, hoje em dia, sobre o futuro do livro tal como o conhecemos hoje em dia: o livro impresso, do qual já beneficiamos desde que Gutenberg inventou a imprensa no séc. XV.

Com o aparecimento de novos aparelhos de leitura (e-ink, e-paper, e-books) sem esquecer os áudio-livros, cujo mercado deixou de ser quase exclusivamente dominado pela oferta para invisuais, que, simultaneamente, levaram à reflexão sobre o futuro dos autores, editores e das próprias bibliotecas, este assunto passou a estar na ordem do dia.

Não é assim por acaso que surge a designação e-library. De igual forma, o aparecimento de grandes colecções digitalizadas disponíveis on line, nomeadamente, e só para referir grandes projectos, a Biblioteca Europeia, o projecto da Biblioteca Mundial e uma Biblioteca Internacional para Crianças, aparecendo também projectos que disponibilizam downloads gratuitos (Projecto Gutenberg, Jornal da Poesia – site brasileiro, exclusivamente dedicado à poesia de língua portuguesa, só para nomear alguns) foram permitindo não só a passagem da biblioteca tradicional, com edifício próprio e horários, para uma biblioteca sem espaço nem tempo, onde acedemos em qualquer parte do mundo e á distância de um clique a catálogos e a obras.

O nosso relacionamento com o livro mudou, mesmo que ainda não tenhamos experimentado comprar um leitor de e-books ou um áudio-livro. E a tendência será para que esses mercados evoluam e se tornem mais atractivos, sobretudo com a grande vantagem da utilização simultânea da internet.

Sendo um assunto que obviamente me interessa, e sobre o qual faço a minha própria reflexão, comecei por ler alguma da bibliografia sobre o assunto sem ter a pretensão de ser exaustiva. Li assim Demain, le livre, Gutenberg 2.0 e, como não poderia deixar de ser, O papel e o pixel de José Afonso Furtado. Aos livros fui juntando alguns artigos disponíveis on line como os de Emmanuel Kessler ou de Alain Beuve-Méry, até chegar à página de Lorenzo Soccavo.

Todos eles me levantaram questões e me fizeram pensar. O livro tem futuro? Seguramente. Em que moldes não sei. As tendências do mercado ainda não estabilizaram. Sei que para já, no entanto, ganhámos certamente em termos de facilidade de acesso e disponibilização de conteúdos. O que, para a história da leitura, não é mau.

E será que o futuro do livro passa pela emergência de um Livro 2.0?

terça-feira, 25 de março de 2008

Tibete

O meu primeiro contacto com o povo tibetano foi seguramente com o livro de Hergé Tintin no Tibete.

Nesse livro, publicado inicialmente em 1958, Hergé mostra os usos e costumes desse povo, descrevendo também um pouco do budismo, já que ainda se tratava de um Tibete independente. Por pouco tempo, é certo, já que a ocupação do país pelo exército chinês em 1959 e o exílio forçado do chefe espiritual do budismo tibetano, o Dalai Lama, fariam do povo tibetano um assunto praticamente desaparecido.

É certo que nos dias de hoje temos muito mais conhecimento sobre o que é o budismo, temos acesso às palavras do Dalai Lama, que ainda o ano passado esteve em Portugal, mas quanto ao povo tibetano e ao que se tem passado nestes últimos dias, dificilmente temos alguma informação.

Para este povo longínquo, de onde não há notícias, imagens ou números, não poderia deixar aqui de registar uma das poucas imagens de que tive conhecimento e me marcou. Porque os direitos humanos também passam por ali.


imagem retirada daqui

Cinema de papel: os desenhos de Federico Fellini


Federico Fellini, esse cineasta que dispensa apresentações, não fez só cinema, como se poderá ver pela exposição patente na Cinemateca Portuguesa até ao final de Maio.

Do conjunto de 400 desenhos originais existentes no Arquivo da sua Fundação, a Cinemateca dá a conhecer 50, cuja característica comum é precisamente o facto de estarem ligados à sua actividade de realizador cinematográfico.

Uma exposição a não perder, mas da qual, infelizmente não há catálogo. Que encontrei, porém, na Fundação, donde retiro a imagem da Dolce Vita, patente na exposição.

segunda-feira, 24 de março de 2008

A evolução de Darwin

“A mula surge-me sempre como um animal muito surpreendente. Que um híbrido possa possuir mais inteligência, determinação, afecto social e poder de resistência de muscular que qualquer um dos seus progenitores parece indicar que, aqui, a arte superou a natureza.”

- Darwin, em terra firme deixa Santiago do Chile rumo à Cordillera Andina, que atravessará a pé, a caminho da Argentina.

Frase e título de post roubada ao blog A evolução de Darwin, que a Fundação Calouste Gulbenkian manterá activo até à abertura da exposição que assinalará o bicentenário do nascimento de Charles Darwin, a 12 de Fevereiro de 2009.

Enquanto esperamos, podemos sempre visitar o blog.

domingo, 23 de março de 2008

Registando Arthur C. Clarke (1917-2008)

A 19 de Março o mundo perdeu um dos seus grandes pensadores e escritores sobre ficção científica, do qual podem ler um obituário saído no New York Times.
Era conhecido do grande público pelos seus inúmeros livros sobre o tema e as duas adaptações a cinema: 2001 - odisseia no espaço e 2010 – o ano do contacto.

Vivia desde 1956 no Sri Lanka, onde, em Dezembro do ano passado, por ocasião do seu 90º aniversário, grava este vídeo sereno, lúcido e desassombrado com reflexões sobre o envelhecimento, a vida e a morte. É só para resistentes, já que dura exactamente 9 minutos. Mas se não o virem até ao fim também não ficam a saber quais são os três desejos que Arthur C. Clarke formula, na eventualidade (ou não) de cá estar para os ver realizarem-se.
Se mesmo assim não aguentarem (o que é pena), acedam aqui à sua Fundação e fiquem a conhecer melhor a pessoa, bem como os seus projectos.


quinta-feira, 20 de março de 2008

Páscoa
























Em tempo de partida para umas merecidas férias, aqui deixo registo de um livro interessante, as Histórias da Bíblia para Crianças, ilustradas também por crianças.
Boa Páscoa para quem acredita, boas férias para quem vai aproveitar ou, simplesmente, bom fim de semana grande.
Eu volto na segunda feira.

terça-feira, 18 de março de 2008

segunda-feira, 17 de março de 2008

Escutaríamos Nós um Carvalho ou uma Pedra, se eles Dissessem a Verdade?



Título pertencente a Platão, a uma passagem do Fedro, que Maria Filomena Molder utiliza no seu livro As imperfeições da Filosofia.

No Fedro, esta passagem surge após Sócrates ter contado a história da invenção da escrita:

“Fedro - Que facilidade que tens, ó Sócrates, em inventar histórias egípcias, ou de qualquer outro país, como bem te aprouver.
Sócrates – Meu amigo, os sacerdotes do templo de Zeus em Dodona afirmaram que as primeiras palavras divinatórias saíram de um carvalho. Assim, as pessoas daquele tempo, que não eram tão sábias como vós, os jovens de hoje, contentavam-se na sua simplicidade em escutar a linguagem de um carvalho ou de uma pedra, desde que dissessem a verdade. Mas, para ti, o importante é saber quem fala e qual o seu país de origem: não te basta ver se ele diz, ou não, as coisas como elas são”
(275b-d)

Nós poderíamos acrescentar: mas, para ti, o importante é saber a edição, a cidade, o ano, conferir a bibliografia, as notas de rodapé, os CD-Rom sobre o assunto.
Passagem perturbante, juntamente com outras que, aliás, se lhe seguem, um em que Sócrates faz o elogio da fertilidade da dialéctica, dos discursos escritos nas almas, progenitores de uma raça de homens, que receberam por baptismo um nome ainda inseguro: filósofos. (…)”

Continuando a sua reflexão no capítulo com este título, e com recurso a vários autores para uma mesma linha de raciocínio, Filomena Molder termina dizendo:

“No tempo de Sócrates, ao tempo do nascimento da filosofia, enquanto o nome desta, e o que lhe correspondia, ainda se estava a fixar, Sócrates lamentava que os jovens já não acreditassem que um carvalho ou uma pedra pudessem ser escutados, se dissessem a verdade, que já não conhecessem a simplicidade do coração que escuta.
Aqui está a divisão, o intervalo que não se fecha, sobre o qual assenta a filosofia, a sua madre. Pois, se Sócrates evoca aqueles que escutavam o rumorejar das folhas dos carvalhos, ele próprio não saberia fazê-lo (tão amigo das cidades como ele era!). E, no entanto, embora pareça que o jovem Fedro deu um passo mais adiante, um passo para o lugar onde nós nos avistamos a nós próprios agora, o lugar já recuado de Sócrates, o lugar daquele que evoca uma experiência que não pode partilhar a não ser falando dela, esse lugar ficará ainda, ainda e sempre, atado aos pés de Fedro, lugar nostálgico de uma crença na legibilidade da natureza, de uma nostalgia da simplicidade do coração que essa crença implica (…).”

Filomena Molder, que não só me transmitiu conhecimentos, sendo minha professora na Licenciatura, como também me fez pensar.

domingo, 16 de março de 2008

Mezzo

Sábado e Domingo são dias em que o comando da minha televisão só conhece o número do canal Mezzo.

Normalmente para música de fundo, mas também para quando ocasionalmente me sento na sala a ler e vou espreitando ou mesmo abandonando a leitura e vendo o que passa.

Foi o que aconteceu neste fim de tarde com uma série de números de dança contemporânea.
De que gostei particularmente, a ponto de vos deixar aqui registo não de todos, naturalmente, mas do que talvez tenha apreciado mais:
Les Bourgeois, música de Jacques Brel, dançado por Daniil Simkin. A não perder

sábado, 15 de março de 2008

Ler o Padre António Vieira hoje. Sim, mas onde?

Em pleno Ano Vieirino, como aliás já tive ocasião de lembrar aqui no Registos a 6 de Fevereiro, data em que se comemoravam os 400 anos do seu nascimento, justamente comemorado e celebrado com inúmeros eventos e acontecimentos, consultáveis aqui, e a realização de um Congresso Internacional de 18 a 21 de Novembro, onde, se Deus quiser, eu estarei presente, tenho-me interrogado sobre as possibilidades de leitura da sua obra.


Não que a mesma não seja aconselhável ou até com temas tão actuais, longe disso. Apenas porque, tirando (e já tiro muito, é certo) a Biblioteca Nacional, presencialmente ou via Internet, as bibliotecas públicas ou privadas, onde pode o leitor de hoje em dia adquirir as obras do Padre António Vieira? É certo que existem algumas (muito poucas) edições parcelares, mas…


Esta questão tem-me ocupado algum tempo, apenas por distracção da minha parte, vejo agora. Porque ontem fez-se-me luz: a não na moda Livraria Sá da Costa deveria ter publicado alguma coisa.


Assim, animada com essa certeza, hoje de manhã fiz uma coisa que já não fazia, confesso, há algum tempo: fui á Baixa. Entrei na Sá da Costa e nem me cansei a procurar, perguntei logo pelo que queria.


E lá estavam eles à minha espera.
As obras escolhidas do Padre António Vieira com prefácio e notas de António Sérgio e Hernâni Cidade, em 12 vols.

E ainda vou ter o prazer de abrir as páginas, tarefa que associo sempre à vinda da Feira do Livro, onde se concentravam maior número de livros para essa execução. Há certos rituais que não se deviam perder, acho eu. Mas enfim, também não tenho de que me queixar nos próximos tempos.

Os arquivos e a formação das identidades



Nunca a questão das autonomias e independências esteve tão premente e simultaneamente agitou tanto a cena política europeia e não só.

Lembrei-me assim de aqui falar de uma obra que, sendo uma recolha de documentos existentes em diversos arquivos, pode ajudar a fazer uma reflexão sobre as nossas identidades ocidentais.

Falo de Archives de l’Occident, obra dirigida por Jean Favier, historiador e arquivista, o qual, no seu prefácio pergunta: Avec quoi écrit-on l’histoire?

Sem dúvida uma obra ambiciosa e de divulgação, pensada em três volumes, dos quais creio só terem saído dois, o primeiro e terceiro que possuo. Nunca consegui perceber se o segundo chegou a sair. Faz uma selecção de documentos e publica-os, enquadrando-os, naturalmente em grandes assuntos. Para além disso tem ainda bibliografia útil,

Uma leitura interessante com algumas curiosidades.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A Pessoa e os seus Direitos

"A personalidade é uma qualidade: a qualidade de ser pessoa”. Com esta frase, inicia Pedro Pais de Vasconcelos o seu livro Direito de Personalidade.
Se a pessoa humana constitui o fundamento ético-ontológico do Direito, sem as pessoas não existiria o Direito. O Direito existe pelas pessoas e para as pessoas. Tem como fim reger a sua interacção no Mundo de um modo justo, continuando a citar o autor.


Existem os seguintes tipos legais de direitos de personalidade:
- direito á vida
- direito à integridade física e psíquica
- direito à inviolabilidade moral
- direito à identidade pessoal e ao nome
- direito ao livre desenvolvimento da personalidade
- direito à honra
- direito à privacidade
- direito à imagem

Num mundo globalizado, onde a luta pelos recursos naturais, os problemas de segurança e correspondentes ataques terroristas, os desequilíbrios entre os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, estes direitos continuam hoje tão actuais como ontem.


Mas não se esgotam aí. Os casos dos papparazzi, das filmagens em locais públicos, etc, tornam estes direitos um objecto inesgotável de estudo. A acompanhar com todo o interesse. Afinal, trata-se dos nossos direitos.

Et maintenant por Gilbert Bécaud ou o Bolero de Ravel ao contrário

Por uma dessas circunstâncias felizes da vida que é a nossa capacidade de estabelecermos amizades e troca de conhecimentos com outras pessoas ao longo do tempo, foi-me recentemente apresentado o Concerto para piano em Sol Maior de Maurice Ravel, que desconhecia.

Mas como uma descoberta nunca vem só, tive hoje de manhã uma conversa algo pitoresca sobre as influências do Bolero de Ravel… que chegou ao Et maintenant de Gilbert Bécaud.
Que por sinal também desconhecia, mas tratei de colmatar a falha.

Aqui deixo a letra e música.

Et maintenant que vais-je faire
De tout ce temps que sera ma vie
De tous ces gens qui m'indiffèrent
Maintenant que tu es partie
Toutes ces nuits, pourquoi pour qui
Et ce matin qui revient pour rien
Ce cœur qui bat, pour qui, pourquoi
Qui bat trop fort, trop fort
Et maintenant que vais-je faire
Vers quel néant glissera ma vie
Tu m'as laissé la terre entière
Mais la terre sans toi c'est petit
Vous, mes amis, soyez gentils
Vous savez bien que l'on n'y peut rien
Même Paris crève d'ennui
Toutes ses rues me tuent
Et maintenant que vais-je faire
Je vais en rire pour ne plus pleurer
Je vais brûler des nuits entières
Au matin je te haïrai
Et puis un soir dans mon miroir
Je verrai bien la fin du chemin
Pas une fleur et pas de pleurs
Au moment de l'adieu
Je n'ai vraiment plus rien à faire
Je n'ai vraiment plus rien ...

E os meus agradecimentos a quem de direito. Tem sido um prazer conhecê-la e poder conversar consigo cidadã G.


terça-feira, 11 de março de 2008

Notícias do Brasil

Uma das vantagens de divulgarmos o nosso blog é depois sermos presenteados com e-mails com informações / links úteis.

Aqui têm uma que me parece realmente interessante e está lá para o pé do condado de Deux Cheveaux, distrito de Salvador, Bahia, Brasil, onde decerto Mr. Pickwick certamente se ligará quando precisa de alguma ideia para as suas crónicas de sexta feira.

Poucas vezes, portanto.

Talvez por isso, chega-me a notícia que esta biblioteca digital, desenvolvida em software livre, e onde se pode aceder a conteúdos tão diversos como música, texto, imagem, e o mais que podem e devem experimentar, corre o risco de fechar por falta de acessos.

Não sei se é verdade, mas pelo menos ficam a conhecer o projecto .

Atitudes...

No post abaixo dizia o Wenceslau de Moraes que os Orientais por vezes têm um verdadeiro requinte de solenidade sentimental pelas coisas triviais da vida.


Hoje quando vi o Blog da Blue, deparei-me com uma daquelas verdades de Mr. de La Palisse. Não deixa, contudo, de valer a pena olhar para ela. Apesar de tudo o que nos rodeia, a vida não deixa de ser aquilo que nós fazemos dela.

segunda-feira, 10 de março de 2008

A alma Japonesa




"É no Oriente, e em especial no Extremo Oriente, que as coisas comuns da criação ou os usos e costumes triviais da vida são susceptíveis de merecer um tal requinte de solenidade sentimental e de praxes de rito, que constituem um verdadeiro culto".

Tenho visto tanto post da Gi sobre o Oriente, a China, o Japão, enfim, acho uma verdadeira provocação e já lhe disse, de modo que achei que estava na hora de fazer o meu próprio post sobre um autor e tema que me interessou desde a minha juventude.

Estou a falar de Wenceslau de Moraes, esse escritor que, nas suas próprias palavras em 1928, se descreve assim a um japonês:


"Sou português. Nasci em Lisboa no dia 30 de Maio de 1854. Estudei o curso de marinha e dediquei-me a official da marinha de guerra. Em tal qualidade fiz numerosas viagens, visitando as costas da África, da Ásia, da América, etc. Estive cerca de cinco annos na China, tendo ocasião de vir ao Japão a bordo de uma canhoneira de guerra e visitando Nagasaki, Kobe e Yokoama.
Em 1893, 1894, 1895 e 1896 voltei ao Japão, por curtas demoras, ao serviço do Governo de Macao, onde eu estava comissionado na capitania do porto de Macao. Em 1896, regressei a Macao, demorando-me por pouco tempo e voltando ao Japão (Kobe). Em 1899 fui nomeado cônsul de Portugal em Hiogo e Osaka, logar que exerci até 1913.
Em tal data, sentindo-me doente e julgando-me incapaz de exercer um cargo publico, pedi ao Governo portuguez a minha exoneração de official de marinha e de cônsul, que obtive, e retirei-me para a cidade de Tokushima, onde até agora me encontro, por me parecer logar apropriado para descançar de uma carreira trabalhosa e com saúde pouco robusta.
Devo acrescentar que, em Kobe e em Tokushima, escrevi, como mero passatempo, alguns livros sobre costumes japoneses, que foram benevolamente recebidos pelo publico de Portugal."

Desde cedo o comecei a ler, primeiro nas edições da Parceria António Maria Pereira, que fui comprando, depois mais tarde ou porque herdei ou porque comprei, primeiras ou segundas edições, até ter a obra completa.
Fascinava-me aquela escrita que me transportava para o outro lado do mundo e para outra civilização que desconhecia e que me parecia ali tão bem descrita.

Quase conseguia, achava eu, ver pelos olhos de Wenceslau e descobrir essas pessoas tão diferentes de nós, mas que, pela narrativa ficavam tão próximas.

Naturalmente continuei a ler mais sobre o Oriente, sobretudo sobre o Japão, país que sempre me despertou mais curiosidade que a China. Forçosamente nunca iria ver a mesma Osaka onde Wenceslau tinha passado alguns tempos, e então quando cheguei aos filmes dificilmente se consegue vislumbrar naqueles conjuntos de arranha-céus aquele Japão a que os livros de Wenceslau me tinham levado.

Lembro-me sobretudo do filme Black Rain de Ridley Scott, onde se podia ver uma amálgama de antigo e novo Japão, ou o que nós ocidentais vemos e a forma em como eles orientais ainda regem as suas acções, apesar de, aparentemente por fora terem mudado.


A grande questão, contudo, que me ficou foi: se eu alguma vez for ao Japão, serei capaz de ter um relance da alma japonesa?
Daquela que existe por baixo do consumismo que vemos e de todas as apropriações do ocidente que fizeram?
Como Wenceslau de Moraes a viu?

Carta retirada daqui.
Saber mais sobre Wenceslau de Moraes aqui.

domingo, 9 de março de 2008

Música em paz

Ontem, ao ler o artigo de Eduardo Cintra Torres no Público e a quem roubei o título, reparei que mencionava este projecto, do qual já tinha ouvido falar, mas que ainda não consegui ver no canal Mezzo.

Resolvi assim fazer uma pequena pesquisa deste projecto tão interessante e que continua tão actual.

O realizador alemão Paul Smaczny tem um documentário, de 2006, que está a passar no Mezzo, intitulado Knowledge is the Beggining. Nele, relata a história da orquestra fundada em 1998 pelo intelectual palestiniano Edward Said (1935-2003) e o pianista e maestro israelita Daniel Barenboim, composta por jovens israelitas e árabes.

O objectivo desta orquestra era, naturalmente, ultrapassar barreiras, escolhendo um meio neutro: a música. Teve assim como objectivo a realização de um concerto, que se deu em Agosto de 2005 na cidade de Rammalah, onde a "música do católico Beethoven foi tocada por judeus e muçulmanos", como refere o jornalista.

Para saber mais sobre esta iniciativa veja aqui, aqui e aqui.

Para saber do DVD, veja aqui e aqui.

sábado, 8 de março de 2008

A Bela Adormecida


“A Bela Adormecida hoje seria salva pelo Super-Homem e viajava para muito longe da terra numa nave espacial”.

Diz Agustina Bessa Luís, no nº 1 da Colecção Escrever a Dança da Companhia Nacional de Bailado.

É que “o maravilho muda de narrativa, mas não muda de sentido. Apresenta sempre os mesmos traços do sonho e serve para as pessoas se compreenderem melhor”.
No Dia Internacional da Mulher, que o Luís amavelmente me relembrou, eu, que dificilmente me vejo como Bela Adormecida, fazia uma viagenzita para muito longe da terra numa nave espacial. Também não precisava de ser com o Super-Homem, que é uma personagem que sempre achei meio ridícula, mas enfim isso sou eu já a ser esquisita. Além disso preciso de voltar lá para as 23h que tenho coisas para fazer, mas já dava para aproveitar qualquer coisa ...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Há sempre almas caridosas

Tim Craven, professor na Universidade de Western Ontário, disponibiliza uma série de software livre com inegável interesse para quem anda pelas áreas das bibliotecas e arquivos mas não só.

Uma breve passagem de olhos pelos cinco programas que podem ser descarregados aqui, permitem-nos verificar que:

- ExtPhr32 - extrai todas as palavras e frases que ocorrem num documento, contabilizando-as (com algumas excepções, que se podem ver aqui);

- NEPHIS32 é um programa compilado (escrito em Delphi 6) para gerar índices usando NEPHIS (NEsted PHrase Indexing System). Mais informação aqui;

- TexNet32 disponibiliza aos seus utilizadores ferramentas de auxílio à escrita de abstracts- Mais informação aqui;

- TheW32 – programa para Microsoft Windows que permite criar e manter um Thesaurus. Veja mais aqui;

- XRefHT32 fornece uma variedade de funções que auxiliam na produção de índices baseados na Web. Descubra todas as potencialidades aqui.

É isto que é interessante no software livre. Haver alguém (um indivíduo ou um grupo de pessoas) a desenvolver programas dos quais todos podemos beneficiar gratuitamente.

terça-feira, 4 de março de 2008

Que América é esta?



Em ano de todas as conversas sobre as eleições norte-americanas e os seus reflexos na geo-estratégia mundial, pareceu-me relevante relembrar aqui o livro Vertigem Americana de Bernard-Henri Lévy, saído em Fevereiro de 2007, fruto de um convite da revista Atlantic Monthly .

Lévy, filósofo francês, líder da corrente dos “Nouveaux Philosophes”, percorreu assim mais de 20.000 km de norte a sul dos Estados Unidos numa tentativa de compreender esse país, à semelhança do que, 172 anos, antes o seu conterrâneo Alexis de Tocqueville o fez, sob o pretexto de estudar o seu sistema prisional, e do qual resultou a obra Da Democracia na América.

Embora o livro de Lévy tenha sido feito entre a campanha eleitoral que reelegeu Bush em 2004 e os acontecimentos do furacão Katrina, que assolou New Orleans, trata-se de um livro a ler com atenção e, que no seu epílogo, já depois das (muitas) viagens e leituras, coloca algumas questões interessantes, tais como:

O que é um americano? A ideologia americana e a questão do terrorismo. A América tem raiva?

Em última análise, podemos sempre tentar ver pelos nossos próprios olhos, e seguir o itinerário…

segunda-feira, 3 de março de 2008

As Casas da Alma



As maquetas arquitectónicas da Antiguidade, peças de terra que acompanhavam a alma do morto, ao seu destino, representavam uma ou um conjunto de casas (As Casas da Alma).

Transpunha-se assim para a vida depois da morte, o mesmo conceito de organização da vida: casa dos vivos / casa dos mortos. Quem diz casa diz cidade e os nossos cemitérios, actuais cidades dos mortos, estão aí para nos lembrar que o tempo passou, mas a forma de organização não tanto.

Tendo-se desenvolvido entre 5.500 ac até 300 dc, percorrendo o Egipto, Mesopotâmia, Grécia e Roma, aqui vos deixo algumas dessas Casas, que há tanto tempo foram concebidas para albergar uma Alma.




Não encontrei muita informação disponível sobre este assunto, ou não soube procurar. Aqui vos deixo, no entanto, dois links.


As imagens foram retiradas do catálogo da exposição realizada no
Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona em 1997, se não estou em erro. Uma exposição belissima, diga-se em abono da verdade., que tive o prazer de ver.

domingo, 2 de março de 2008

Quero é viver

Hoje, ao passear de carro com uma amiga, ouvi esta música do António Variações, cantada pelo Camané, do album dos Humanos, música essa de que já nem lembrava.

Ouvi, porém, com gosto. As letras do António Variações são interessantes, gosto da voz e interpretação do Camané, portanto aqui vos deixo este registo musical.

Não é jazz nem música classica, bem sei. É música e eu gosto. Boa semana

As seis cordas

A guitarra
faz chorar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
escapa-se por sua boca
redonda.
E como a tarântula
tece uma grande estrela
para caçar suspiros,
que flutuam na sua negra
cisterna de madeira.

Federico García Lorca