domingo, 27 de abril de 2008

Os Arquivos e as Guerras

Ao longo da História, as guerras foram sendo sinónimo de “empréstimos” mais ou menos escandalosos de arquivos, sendo comum o conquistador levar, às vezes em grandes quantidades, arquivos dos territórios conquistados.

Por isso mesmo, surge em Arquivística o princípio da territorialidade, o qual determina que os arquivos devem ser mantidos sob a jurisdição arquivística do território onde foram produzidos.

Mas se os princípios podem ser enunciados, é mais difícil, no teatro da guerra, serem aplicados. Foi assim, com particular agrado que, através do Conselho Internacional de Arquivos, tomei conhecimento da Declaração Conjunta que a Society of American Archivists e a Association of Canadian Archivists fizeram a propósito da documentação desviada do Iraque, digamos assim, durante as duas Guerras do Golfo.

Nela são enunciados o tipo de documentação levada, aproximadamente o número e por quem. Vale a pena ler.

Costuma dizer-se que os arquivos constituem a nossa a memória. Subtrai-los equivale a apagá-la.

aqui tinha feito um post a propósito dos problemas que se colocam ao património, seja ele museológico, biblioteconómico ou arquivístico em caso de conflitos armados. Às vezes esquecemo-nos…

sábado, 26 de abril de 2008

Whisky, uísque, uísqui ou, porque não, visque?

Aprendi, na passada quinta-feira, que a palavra Whisky não se escrevia assim, mas antes uísque e isto parece que já há algum tempo.

Não podia ser maior a minha perplexidade, já que ia jurar que nunca tinha lido nenhum livro onde essa palavra estivesse assim escrita, mas parece que, nos livros da Colecção Dois Mundos, há vinte anos, já se encontrava tal grafia… e se eu li livros dessa colecção!

Entretanto novas formas de escrita vão aparecendo e, se lerem o Primeiro as Senhoras, do Mário Zambujal, lá encontram algumas relativas a estrangeirismo alcoólicos e não só, como podem ver aqui.

Mas descansem os mais puristas: parece que whisky sempre se pode escrever, apesar de ter que ser grafado em itálico… manias de revisores de texto.

Mentira. Ultimamente tenho aprendido a importância dos revisores na feitura dos livros. Da próxima vez que comprar um livro vá ver o nome do revisor. Ou se tem revisor. Posso agora garantir que faz toda a diferença.

E.T. - o carro da minha mãe tem e sempre teve claxon. Não uma vulgar buzina. E no entanto, os dicionários, já com o acordo ortográfico antigo, ainda têm essa entrada, mas whisky não. Dá para entender?

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Democracia e Cidadania

Hoje, dia 25 de Abril, quando se comemoram 34 anos de passagem de uma ditadura para a democracia (que hoje damos por adquirida), eis um livro que, na minha opinião, nos permite pensar e exercer a cidadania que as conquistas de Abril nos trouxeram.

Resultante de um ciclo de conferências realizado na Universidade do Minho entre Outubro de 2005 e Abril de 2006, e coordenado por Isabel Estrada Carvalhais, da secção de Ciência Politica e Relações Internacionais, o livro estrutura-se em quatro partes:

- uma reflexão sobre o novo cidadão, aqui designado por pós-moderno, ou seja, digo eu, quem somos nós enquanto cidadãos e, sobretudo, o que queremos ser. Como nos relacionamos com os Órgãos de Soberania e com o poder em geral. Questão não menos importante é como lida, por sua vez, o Estado com esse novo cidadão.

- quais os desafios que se encontram quando queremos exercer os nossos direitos de cidadania, numa época dominada pelo constante atropelo às nossas liberdades, direitos e garantias, por questões de segurança. O que é que se perdeu, irremediavelmente (?), em termos de direitos humanos, após o 11 de Setembro?

- como participar, nos dias de hoje, na vida do país? Como ser e exercer socialmente a nossa cidadania?

- o que é ser cidadão europeu? O Espaço Schengen faz sentido? Com que direito fechamos hoje as fronteiras aos não Europeus?

Para ler, pensar e, sobretudo, exercer.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ainda a propósito do Dia Mundial do Livro



Um livro sempre actual sobre este assunto: Carta sobre o comércio do livro de Diderot.
Onde se pensa sobre o comércio do livro, a sua história, as profissões ligadas ao mesmo, a censura, os vendedores ambulantes, a travessia das pontes do Sena e outros temas relativos à política literária.
A ler e reler.

Livros Comestíveis














«Désormais, je me nourris à la cuisine de la poésie.»

Robert Dickson - 1944-2007


No Dia Mundial do Livro, e porque a cultura se serve de qualquer forma (acho eu, claro) aqui ficam imagens de vários exemplares concorrentes a alguns festivais de… Livros Comestíveis.

Uma ideia original, é certo, pelos vistos já existente desde 2000, a qual podem conhecer melhor aqui.


E desengane-se quem pensar que se tratam de modernices do Novo Mundo. Participações do Japão, Singapura, Marrocos, Alemanha, Inglaterra, Irlanda, França, etc. , por sinal bem interessantes, deitam por terra qualquer visão mais apressada do fenómeno.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Farei versos de puro nada

Farei versos de puro nada:
de mim, de gente desvairada,
da juventude, ou da amada,
de nada falo,
que os trovei ao dormir na estrada
sobre um cavalo.

Não sei em que hora vim ao mundo,
não sou jocundo ou furibundo,
não sou caseiro ou vagabundo,
sou sempre o tal
que o fado à noite marcou fundo
num monte astral.

Não sei se durmo ou velo, não,
sem a alheia opinião;
quase se parte o coração
com dor cordial
não ligo mais que a um formigão,
por S. Marcial.

Doente estou, creio que morro,
e só o sei por algum zorro,
A um bom médico recorro,
e não sei qual,
bom é, se obtenho o seu socorro;
mau, se estou mal.

Tenho amiga, não sei quem é,
pois nunca a vi, por minha fé;
para mim, santa não é, nem ré,
o que é igual:
normando ou francês nem ao pé
do meu quintal.

Nunca a vi, e tem o meu amor;
nunca me fez dano ou favor;
se a não vejo não sinto dor,
não ganho um galo;
sei de mais bela e bem melhor
e que mais vale.

Não sei quel é seu horizonte,
se o da planície ou o do monte,
nem digo o mal de que ela é fonte;
bom é que cale;
sofro que fique aqui defronte,
parto, afinal.

Fiz os versos, de quem não sei,
e por alguém os mandarei
que os mandará por outro meio
a Anjou ideal
para que venha do seu seio o
contra-sinal.

Guilherme IX de Aquitânia

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Silêncio que se vai cantar o Fado


Das novas gerações do fado e, não sendo especialista na matéria, tento estar atenta às várias vozes que vão surgindo ou que se destacam no meu ouvido. Assim, registos como os de Maria Ana Bobone, Aldina Duarte ou Mariza, para só falar em vozes femininas, não me são estranhos.

Mas é sem dúvida a voz de Camané, as suas canções e percurso, que me fazem, não só apreciar a sua voz como vê-lo herdeiro dessa longa linhagem de cantores de fado.

Talvez por isso, Alain Oulman, autor da letra de Sei de um Rio, que estão a ouvir, compositor de Amália, cedeu um seu original a Camané, que o canta no seu novo álbum de originais, lançado hoje.

E a propósito de Amália, que tal ouvi-la de novo, naquela que é, na minha opinião, claro, um dos seus melhores registo?
Barco Negro

domingo, 20 de abril de 2008

Pedras que falam: um novo olhar sobre a Igreja de São Roque



Todos nós já as pisámos, já nos desviámos, já as tentámos ler… enfim, entrar numa Igreja ou num monumento significa, mesmo para a pessoa mais distraída, tropeçar, mais cedo ou mais tarde, com alguma tampa de sepultura, uma lápide, uma qualquer pedra que fale… resta saber se nós as ouvimos…

Ontem de manhã, integrada no Grupo Eu Lisboa, visitei a Igreja de São Roque, para a ver sob um outro ponto de vista: a das suas lápides e tampas de sepulturas e ouvir o que elas nos têm a contar.

Guiados pela epigrafista Filipa Avellar, cuja competência profissional nestas matérias é sobejamente conhecida, a visita, sempre com ponto de partida e chegada nas tais pedras que falam (e se abundam naquela Igreja), começou com a o problema da peste no século XVI e a difusão do culto a São Roque, passou pelo fascínio pelas relíquias e o papel que desempenharam durante a Contra-Reforma e continuou com a chegada dos Jesuítas a Portugal, o seu papel na sociedade portuguesa, a Confraria da Misericórdia… , tudo isto ao longo dos mais variados tipos de lápides, outros tantos tampos de sepulturas, enfim, numa outra forma de contar e ver as coisas (neste caso a Igreja de São Roque) que se revelou, como seria de esperar, aliciante.

Obrigado Filipa.

Da próxima vez que tropeçarem com algumas pedras que falem, não digo parem, escutem e olhem, mas parem, vejam e pensem. Às vezes temos surpresas agradáveis. Por mim falo também.

O Mosteiro de São Bento da Saúde



No dia 18, sexta feira, o tal Dia Internacional dos Monumentos e Sítios já aqui lembrado, a Casa da Democracia abriu-se, não para declarar que Estava Aberta a Sessão, mas antes para evocar a memória do Mosteiro de São Bento da Saúde: espaços, funções e gentes que primeiro usufruíram deste monumento.


A visita, enquadrada no Tema deste ano: Património Religioso e Espaços Sagrados, foi assim diferente das que a Assembleia da República habitualmente promove, mas não menos interessante, dando a conhecer uma outra história deste monumento.
No final da visita, tempo ainda para a prova de doces conventuais beneditinos, bem como de licor de Singeverga.


Comecei a semana a falar de bolos e eis que a acabo da mesma forma, mesmo não sendo grande doceira. Aqui deixo, portanto, a receita do único bolo que provei, por sinal o meu preferido da pastelaria tradicional portuguesa: o pastel de nata

Pastéis de Nata
(Mosteiro de Arouca)
Deite 3dl de natas num tacho com 150 g de açúcar e 6 gemas.
Deixe ferver mexendo sempre lentamente.
Forre formas com massa folhada estendida muito fina e encha com o doce.

Receita retirada da selecção de doces conventuais beneditinos feita pelo Museu da Assembleia da República e distribuída aos visitantes.

Imagem retiradas do livro O Mosteiro de São Bento da Saúde

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dos romances de capa e espada às playstations, nintendos, gameboys e quejandos



Dumas, Zola, Hugo, Júlio Verne, Salgari, Twain… só os nomes já fazem evocar uma qualquer tarde perdida na infância onde, através de uma aventura, viajávamos para um país exótico, ou talvez não, onde os nossos heróis eram sempre o exemplo supremo da melhor forma de estar na vida.

Em livro ou, mais tarde, em série de televisão ou cinema, os romances de aventuras tinham e têm esse lado atractivo de nos transportar para outras realidades e nos fazer conhecer novos mundos. Naturalmente o género actualizou-se, as personagens mudaram e o herói já não beija a mão da donzela mas… continua a ser uma excelente maneira de iniciar as crianças à leitura.

Sendo do tempo do MS-DOS, confesso que tenho beneficiado pouco das novas tecnologias em termos de jogos. Lembro-me ainda do Spectrum, onde joguei um tal de Manic miner (que aliás gostava), mas depois estas coisas das playstations, nintendos, gameboys e etceteras e tais nem desconfio… portanto não faço ideia que tipo de jogos há.

No entanto tenho lido sobre jogos onde se está no império romano e outras coisas parecidas (acho que se está on line, mas para ser franca nunca aprofundei) e acho engraçado que, também nos jogos, se procure essa componente.

No fundo, dos romances de aventuras aos jogos da nova era, parece-me que a diferença é que passámos a puder interagir…

Imagem e ideia e metade do título do post retiradas do excelente catálogo: Antes das Playstations: 200 anos do romance de aventuras em Portugal, editado pela Biblioteca Nacional em 2003

quinta-feira, 17 de abril de 2008

To All You Cat Lovers



Quando pensamos que sabemos tudo sobre os nossos gatos… truflas !!! uma qualquer carta no correio vem rapidamente fazer-nos ver que assim não é:)

Uma qualquer é como quem diz…, neste caso um convite do INATEL, para uma Conversa à 5uinta (dia 24, às 18h) para… saber se o nosso gato é canhoto ou destro, entre outras coisas, já que, com a presença de membros do Clube Português de Felinicultura, se debaterá no Teatro Trindade, nem mais nem menos que a Psicologia Felina: os mistérios do gato.

Quanto aos garotos cá em casa, é um empate. Olhando para o Patas é fácil determinar que é canhoto, já que utiliza a pata defeituosa para apanhar e atirar as bolas.
Já o Bernardo, rapaz com quem convivo vai para catorze anos, lá está, não sei. Ou é ambidextro, já que nunca reparei em nenhuma pata em especial, ou ainda me falta jogar a tal partida. É o que me parece que vou fazer. Fui.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Guerra colonial, guerra de África ou guerra do ultramar


Antunes Ferreira, no seu livro Morte na Picada, acabado de lançar, “propõe-nos outro conceito: guerra civil. Os que se batem são irmãos desavindos, com mais a uni-los do que a separá-los, pesem embora as diferentes tonalidades da pele ”. As palavras não são minhas, mas de Joaquim Vieira, na introdução.

Ao longo dos anos, tanto por motivos profissionais como de amizade, fui conhecendo antigos combatentes, daqueles que ainda são capazes de relatar durante horas (sou uma boa ouvinte, é certo) a sua vida á época mostrando ainda fotografias tiradas e religiosamente guardadas. Ou acompanhar a história daqueles que ainda hoje não sabem o que fazer com essa memória.

Depois da excelente série de Joaquim Furtado, tenho observado com curiosidade a vinda a lume de memórias pessoais de diferentes participantes em outros tantos teatros da guerra. Como se a caixa de pandora desta memória tivesse (finalmente) sido aberta.

De igual modo veria as memórias dos outros. Suprema ignorância da minha parte, não faço ideia se, da parte combatida, digamos assim, já há este tipo de reflexões.
Antunes Ferreira que pode ser lido aqui

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A língua portuguesa é muito traiçoeira


Fixe Exclamação que exprime entusiamo, alegria. Fixe! O professor não vai dar aula.
direitinho da página 1764 do 1º vol. ... do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa.
A ideia não é minha, retirei do blog da Margarida Pino. Mas pareceu-me interessante divulgá-la.

domingo, 13 de abril de 2008

Fabrico Próprio











Já com fome?


Pastel de nata, palmier, jesuíta, alsaciano, bolo de arroz, parra, mil-folhas, queque, pata de veado, bom bocado, brisa, travesseiro, esquimó, orelha, rim, tíbia, caracol, babá, Napoleão, Josefina, bola de Berlim, russos, xadrex, duchesse…

Qual escolher? A escolha revelou-se ontem difícil, até porque, de algumas das miniaturas presentes no lançamento do livro: Fabrico próprio: o design da pastelaria semi-industrial portuguesa, acho que nunca tinha comido algumas.
Não que seja de estranhar, já que não sou grande adepta de bolos… sobretudo se levam chocolate, mas foi com imenso interesse que estive presente e trouxe para casa este livro inovador na forma de abordar a pastelaria portuguesa.

Projecto multidisciplinar dedicado à Pastelaria Semi-Industrial Portuguesa e à sua relação com o design, da autoria dos designers Pedrita (Rita João, Pedro Ferreira) e Frederico Duarte, o livro conta ainda, e não sendo exaustiva, com ensaios sobre a relação entre a doçaria e a arquitectura, a diáspora da nossa pastelaria, os bolos da madrugada, as espécies raras, rematando com um guia exaustivo da Pastelaria Semi-Industrial: Fotografias e receitas dos bolos.

Escolha o seu.

Veja aqui os futuros lançamentos.
Pode ainda fazer comentários a cada bolo... já deixei o meu às tibias, já que só conheço com recheio de chantilly

Lembrai Senhores

Que no próximo dia 18 deste mês, ou seja, na sexta feira, se comemora mais um Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, sendo o tema de 2008 o Património Religioso e Espaços Sagrados.
Entre música, exposições, visitas guiadas, peddy papers, percursos, actividades pedagógicas, filmes, teatros e o mais que se lembrarem, a oferta é muita e variada, de Norte a Sul do País.
E para que não digam que não sabiam, aqui fica o site, para poderem escolher antecipadamente o que fazer.

O cão da Marta


(não ficava bem no outro post, mas este focinho e uma perspectiva nova das narinas dos cães mereciam destaque. ver mais aqui)

As fantásticas fotografias da Marta









ver mais aqui

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Então até á volta

Da Madrugada para Ajuda pela Pampulha (1947)
Emmerico Nunes (1888-1965)
Museu da Cidade

Não sei para onde foi toda aquela gente, mas sei que eu vou aproveitar este fim de semana para passear por aí e descansar. Bom fim de semana

Os direitos humanos, lembram-se?



Pareceu-me justo começar este post com uma imagem de Tintin na China dos anos 30, onde, à semelhança do que fez com outros dos seus livros, Hergé se documentou sobre a história e costumes daquele país, beneficiando do contacto com estudantes chineses a residir na Bélgica na altura.

Vem isto a propósito do imenso folclore em que se tornou a viagem da tocha olímpica. Vi as imagens em Paris e ouvi alguém (?) dizer para as câmaras que se os chineses tinham algum problema em que na Mairie de Paris houvesse cartazes em que o símbolo dos Jogos Olímpicos fosse distorcido com uma algemas era problema deles (foi qualquer coisa deste género), vi as de Londres, já mais agressivas, com direito a apagar a tocha olímpica várias vezes e àquela figura ridícula do Gordon Brown estar ao lado da tocha mas não lhe tocar, e, felizmente, não vi a passagem por São Francisco.
A ideia de ver esta passagem da tocha tornada num evento que não dispensa a presença de uma estrela de Hollywood, Richard Gere, neste caso, e garante a presença dos media, é uma coisa que me transcende.

Não que eu tenha alguma coisa contra a causa Tibetana, antes pelo contrário. Já aqui fiz um post sobre o problema do Tibete. Quando o Dalai Lama esteve em Portugal fui ouvi-lo e gostei bastante. Comprei recentemente um livro sobre o Tibete, cuja história desconheço. O problema não é exactamente esse.

Do que eu não tenho ouvido falar, e gostaria de ouvir, é por exemplo de Hu Jia, activista chinês dos direitos humanos condenado recentemente a três anos e meio de prisão por … incitar à subversão do Poder do Estado. Ou dos direitos humanos na China em geral, como refere um relatório da Amnistia Internacional a propósito da influência dos Jogos Olímpicos nessa questão.

O problema dos direitos humanos na China não se resume ao Tibete.

Que me conste, os líderes mundiais sabiam dos atropelos aos direitos humanos na China antes da decisão de quem iria realizar os Jogos Olímpicos. Verificar que se pondera condicionar a participação na famosa festa de abertura dos Jogos a 8 de Agosto, à abertura de negociações entre Pequim e o Dalai Lama, é, do meu ponto de vista, um insulto a todos aqueles que lutam e sofrem com o problema dos direitos humanos na China. Mas que estão do lado errado da máquina de filmar.

O tom deste registo foge um pouco ao meu habitual. Acontece que há coisas para as quais já não tenho paciência.

quarta-feira, 9 de abril de 2008


A espantosa realidade das coisas

É a minha descoberta de todos os dias.

Cada coisa é o que é,

E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,

E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.

Hei de escrever muitos mais. naturalmente.

Cada poema meu diz isto,

E todos os meus poemas são diferentes,

Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.

Não me ponho a pensar se ela sente.

Não me perco a chamar-lhe minha irmã.

Mas gosto dela por ela ser uma pedra,

Gosto dela porque ela não sente nada.

Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes ouço passar o vento,

E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;

Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,

Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;

Porque o penso sem pensamentos

Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,

E eu admirei-me, porque não julgava

Que se me pudesse chamar qualquer coisa.

Eu nem sequer sou poeta: vejo.

Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:

O valor está ali, nos meus versos.

Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

Alberto Caeiro


Há algum tempo que não registava aqui nenhuma poesia.

Hoje porém a ocasião é especial, já que se trata dos anos da Gi, blog que frequento já há algum tempo, bastante antes de ter este meu Registos.


No passado fim de semana, quando passeava pelo Jardim da Estrela, tropecei com a Feira de Arts and Crafts, cuja data me escapa sempre, e onde comprei esta Aguarela. Na altura achei que daria para um post “à Gi”. Hoje, no entanto, quando me apercebi que eram os anos da Gi, decidi que seria não só um post à Gi como também para a Gi.


Foi fácil escolher o poema, já que este me diz bastante, a imagem já cá cantava (mesmo que resulte um bocadinho mal...) e só faltava a música. Ainda pensei por alguma do Tord Gustavsen. Mas achei que já as devias conhecer todas, portanto optei por uma versão do Amazing Grace que considero bonita, de um músico que gosto bastante: o Charlie Haden, neste registo com a Charlie Haden Liberation Music Orchestra. Espero que gostes.
Parabéns Gi!

Tratados há muitos…


… não diria seu palerma, claro.
Não estamos, no entanto, orgulhosamente sós, o Tratado de Lisboa não surgiu por acaso, assim como a nossa Adesão à CEE não pode ser vista como um fenómeno isolado.
Gostaria assim de chamar a atenção para a Revista Janus deste ano, onde, em capítulo à parte, dedicado à História dos Grandes Tratados Europeus, se listam, identificam e analisam esses tratados.
Começando pelo Congresso de Vestfália, o Tratado de Utrecht, o Congresso de Viena, o Tratado de Versalhes, o Pacto Briand-Kellog, o Tratado de Bruxelas, o Tratado de Londres, o Tratado de Washington, o Tratado CECA, o Tratado de Roma, a Conferência de Helsónquia e, finalmente, os Tratados de Maastricht, Amesterdão, Nice e Lisboa.

Uma leitura a não perder.

O Tratado de Lisboa



… esse mesmo de que tanto se fala, mas do qual parece haver tantas certezas como muitas dúvidas…

Por isso mesmo dei por bem empregue o tempo passado hoje na Assembleia da República onde, promovida pela Comissão de Assuntos Europeus, decorreu a 3ª e última Conferência do Ciclo dedicado ao Tratado de Lisboa.

Com um leque de convidados ambicioso em número, diversidade e qualidade, a conferência permitiu a quem assistia ir tomando conhecimento dos pontos positivos e negativos que foram sendo apontados, anotar no próprio texto do Tratado (cuja edição foi aliás distribuída) as reflexões levantadas e, questão não dispiciente, questionar e dialogar.

Oradores presentes: Miguel Portas, Edite Estrela, Adriano Moreira, Pedro Gurreiro, Henrique Monteiro, Francisco Sarsfield Cabral, Carlos Gaspar, Maria Elisa Duarte, Pedro Camacho, Simeon Saxe-Coburg-Gotha.

Para aceder ao texto do Tratado clique aqui.

Site oficial disponível aqui.

Vá para fora cá dentro: o Museu Rafael Bordalo Pinheiro



Num registo mais Teiquirisi (não conhecia esta palavra, mas acho deliciosa, mesmo que os abat jours cá em casa tenham nascidos, crescido e vão morrer abat jours, apesar da Academia das Ciências já dizer abajurs desde ???) ), mas não me atrevendo a escrever algo que saia fora do meu estilo habitual, aqui deixo notícia de um museu onde seguramente podemos apreciar a ironia e humor do criador que lhe deu origem.

Falo do Museu Bordalo Pinheiro, ao Campo Grande. Só a pessoa de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) merece a visita, claro está, mas o novo programa museológico a que a reabertura do Museu, em 2005, deu a conhecer justificam perfeitamente a visita tornando-a muito agradável.

Para além da Biblioteca, onde, através deste link, podemos, em nossa casa, ter acesso a muitas das publicações editadas pelo próprio Rafael, lá visitamos alguns dos desenhos mais emblemáticos de Bordalo Pinheiro: O Zé Povinho, naturalmente, as relações com a Igreja, com a Política, não deixando também de evocar a cerâmica, verdadeiro projecto de cerâmica nacional.

Todos nós temos presente os pratos com couves e peixes que se vendem por aí. Para mim, no entanto, procurar e/ou comprar louça Bordalo Pinheiro implica ir às Caldas, à Fábrica propriamente dita, motivo de outro vá para fora cá dentro, passeio muito agradável, de resto.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Pensar os Partidos Políticos



Muito se tem falado sobre o futuro dos Partidos Políticos e a sua capacidade de auto regeneração numa época em que o aparecimento de movimentos cívicos e conceitos como o de democracia participativa estão na ordem do dia.

Saber qual o papel dos partidos políticos durante a vigência das cinco Constituições (1822-1976) e analisá-los à luz da história constitucional portuguesa, não deixará de ser proveitoso para essa reflexão.

Com extensa bibliografia, a tese de doutoramento de Marcelo Rebelo de Sousa, é um excelente contributo para a compreensão da história dos Partidos Políticos em Portugal.

You know I’m No Good

Não é certamente esta a música mais conhecida do último álbum de Amy Winehouse, já que Rehab se tornou a sua “imagem de marca”, digamos assim.
Portadora de uma voz inconfundível, a que alia uma figura, modo de vida e necessidade de atingir os limites, tem tido por parte dos media uma constante procura de imagens e notícias.
Do muito que já foi dito, deixo aqui a biografia que a Cristina dela fez no Contra Capa, para quem queira saber um pouco mais sobre esta cantora que fascina tanta gente.
Quanto a mim, para além de achar algo curiosa a imagem, considero, isso sim, que Amy Winehouse tem uma excelente voz. Aqui deixo, assim, a minha canção preferida do último álbum:

You Know I’m No Good (video oficial)
E a mesma, mas desta vez em dueto com Ghostface Killah. Nem desconfio que seja este jove como diria o Rafeiro. Mas pesquisar na net tem destas coisas… Como bónus podem ver Amy sem penteado à não sei quê e sem maquilhagem.

domingo, 6 de abril de 2008

Pequenos Nadas ou Domingos em Família



Hoje, por volta das 16h. Sobrinhos na cozinha da casa da minha mãe, fazendo biscoitos com outra tia.

Voz do sobrinho X – Ó avó porque é que a montanha não anda?

Voz minha mãe – ó filho, não sei, diga lá.

Voz do sobrinho X – porque tem um só pé!!

Risos, risos.

Voz do sobrinho X – Avó, inventei esta agora.

Voz minha mãe – então agora pergunto eu. Qual é a aula favorita da vaca? Múuuuuuusica. (risos, gritos)

Voz minha mãe – Qual o actor preferido das abelhas? Meeeeeel Gibson. (risos, gritos).

Voz minha mãe – Que diz o galo à galinha?

Vozes de todos os sobrinhos – os nossos filhos têm muita pinta !!!!

Eu, no escritório, arrebitava (literalmente) as orelhas. Solução do mistério: uma página da revista Audácia. Com um erro, por sinal. Os filhos da galinha e do galo têm lá muita piada e não pinta!.

Os biscoitos de limão estavam bons. Ficaram a faltar os scones tia I.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Tudo o que precisa de saber sobre Preservação digital em 91 páginas...

... Apesar de ter sido publicada a 1 de Abril, a notícia da publicação das Recomendações para a Produção de Planos de Preservação Digital, pela DGARQ, que o Pedro Penteado anúncia no seu blog , é obviamente verdade, e de resto uma iniciativa que fazia falta.
aqui tinha falado sobre a Preservação digital, tema hoje crucial se queremos ter arquivos amanhã. Não pensar esta realidade é realmente apagar a memória do nosso tempo. Uma iniciativa portanto que faz todo o sentido.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Um fim de tarde em dois actos



1º Acto – Desloquei-me hoje, ao fim da tarde, ao Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), para assistir a uma conferência. E foi um verdadeiro viajar no tempo, já que o AHU foi o primeiro arquivo em que, nos idos de 1986, tive uma intervenção profissional, fruto de um estágio que ali fiz com a minha amiga PG, e que recordo com boas memórias quer pelo bom acolhimento que sempre tivemos, quer pelo trabalho que ali efectuámos.
Para além disso o AHU, instalado desde 1929 no Palácio da Ega, à Junqueira, tem entre a sua documentação a Secção Ultramarina da Biblioteca Nacional e o Ministério das Colónias ou do Ultramar, possuindo documentação desde o século XVI até 1975.
Dado que o seu acervo constitui a memória de cinco séculos de Portugal no mundo, é o mesmo extremamente rico, sendo muito interessante nele fazer pesquisa. Já para não falar na sua riqueza iconográfica e cartográfica, da qual vos dou uma pequenissima amostra nestes três marcadores de livros...
2º Acto - O motivo da visita foi uma conferência sobre O Palácio dos Saldanhas à Junqueira, proferida por Cristina Barbosa da Cruz e comentada por José Sarmento de Matos, olisipógrafo que dispensa apresentações.
O tema em si, resultante da tese de mestrado de Cristina Barbosa da Cruz, é interessante, já que faz a história do edifício onde se situa actualmente o AHU, tendo para o efeito que falar na família que o habitou, das relações sociais à época, da arquitectura, etc., enfim fazendo deste final da tarde um momento bem passado.
E que me fez conhecer melhor esta cidade em que sempre vivi e trabalhei.

Ler Doce Ler













... ou as Crianças e a Leitura...

Passeando pela Blogosfera dei-me conta que passei olimpicamente pelo Dia Mundial do Livro Infantil... felizmente há pessoas mais atentas, como a Ka, cujo post me lembrou do facto. Como acho que os livros e as crianças são um assunto que merece toda a nossa atenção, resolvi registá-lo aqui também.
Nem de propósito tinha achado graça a este livro Ler Doce ler com textos de José Jorge Letria e ilustrações de Rui Castro. Tanta que o trouxe para casa e portanto nada melhor do que dar aqui dele notícia quando se fala em livros, leituras e crianças.










Faço só aqui com modesto acrescento (os livros também vivem das nossas anotações): cá em casa, por exemplo) alguns livros têm tendência para gostarem de estar aos montes no chão, em cima do PC, às vezes na cadeira, enfim, muito ordeiramente enquanto esperam lugar nas estantes...
Leiam o livro, ou melhor, ofereçam às vossa crianças... afinal é mesmo para elas o dia, que por sinal já passou, e o livro.