sábado, 31 de maio de 2008

Imagens de Marte








Alertada pela coluna de Carlos Fiolhais no Sol, a Heliosfera, que leio sempre com agrado, hoje intitulada Há vida em Marte?, resolvi explorar o site da NASA (o da Universidade do Arizona não abria) sobre o projecto. Aqui têm umas imagens de Marte, trazidas pela sonda Fénix, uma colaboração da NASA com a referida Universidade, planeta esse onde parece haver gelo.

Haverá vida em Marte, como pergunta Carlos Fiolhais?

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Selecção musical



E para esta semana, aqui fica o registo do encontro da voz de Louis Armstrong com o piano de Oscar Peterson, no original de Cole Porter Let's Do It (Let's Fall in Love).


quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ida e volta: ficção e realidade



Hora de almoço no Centro de Arte Moderna e a fila para almoçar dava várias voltas. Espreito a porta do Centro e leio o título da Exposição: Ida e volta: ficção e realidade. Pensei, mal por mal, mais vale voltar mais tarde e ir ver não sei o quê, já que o título, esse era interessante.

Comprado o bilhete (que eu pedi para a exposição e a senhora respondeu a vídeo-arte, ou qualquer coisa parecida), um anúncio avisa-nos que, a partir daquela porta, o espectador passa a ser actor do dispositivo cenográfico.

E de facto, passamos a ir e vir, através duma estrutura montada para visionamento de instalações de vídeos ou cinematográficas. E fazemo-lo não só no sentido físico de andarmos por ali, entrando em cada “sala” , procurando adaptar-nos à falta de luz, sentados ou em pé, como também interagimos com o que as imagens nos mostram. E em cada instalação são mostradas imagens/conceitos bem diferentes umas das outras.

Ainda ia a meio e já dava o almoço por perdido, mas estava completamente rendida a estas idas e voltas que nunca pensei me pudessem distanciar e aproximar tanto da realidade. Na verdade, nunca tinha visto uma instalação de vídeo como a vi hoje. E que aconselho vivamente.

terça-feira, 27 de maio de 2008

O Convento dos Cardaes



Na Rua do Século, nº 123, quase sem se dar por ele, e por vezes mais visitado por estrangeiros do que por portugueses, existe uma pequena maravilha: o Convento dos Cardaes.

Um dos motivos que o torna tão visitável é sem dúvida a sua azulejaria representando a vida de Santa Teresa de Ávila, verdadeira obra prima holandesa, assinada por Jan van Oort, mas também poderíamos falar da talha, pintura, embrechados… porque não experimentar e ir até lá?

Desde 1876 que o Convento foi cedido à Associação de Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos.
Cabe, desde então, às Irmãs Dominicanas a orientação do Convento numa obra de apoio a pessoas com deficiências profundas.
Nessa perspectiva foi aberta ao público uma zona do Convento para visitas e eventos culturais dos mais diversos. De igual modo e porque de monumento histórico se trata, foi iniciado o seu restauro, bem como o seu estudo por investigadores, dando origem a um livro sobre o Convento.

Só é justo dizer que muito do desenvolvimento do Convento nestes últimos anos se deve à Irmã Ana Maria, que, com a sua persistência, boa vontade e permanente sorriso vai conseguindo os necessários apoios, planifica, está lá todos os dias a assegurar que as coisas estão a correr bem

O Convento dos Cardaes está aberto todos os dias das 14,30 às 17,30, com visitas guiadas.

Irá também realizar o seu Jantar anual nos claustros no próximo dia 21 de Junho, às 19,30h, cuja receita reverterá para o restauro do Convento e para as actividades de Verão da sua obras social.
Durante o jantar haverá um Concerto de Guitarras com Percussão e Dança Oriental, com as seguintes presenças:

Luísa Amaro – Guitarra Portuguesa
António Eustácio – Guitolão
Tiago Pereira – Percussão oriental
Gonçalo Lopes – Clarinete
Rita Fontes – Dança oriental

De uma forma ou outra, não deixem de conhecer o Convento: vale a pena a visita, já a fiz várias vezes!

domingo, 25 de maio de 2008

Festejar aniversários

Desde que vi Jô Soares, já não sei em que programa, recitando "Ao volante do meu chevrolet que fiquei com vontade de ouvir mais

Hoje, aqui deixo este registo do "Aniversário", também de Álvaro de Campos. É pena não ter a imagem do Jô Soares.

sábado, 24 de maio de 2008

Atenta às notícias de Cannes, um livro interessante sobre duas importantes figuras da nossa cultura: Manoel de Oliveira e Agustina Bessa-Luís



“Há uma cena num filme de Manoel de Oliveira, o Vale Abrãao, em que um desconhecido, num restaurante, lhe oferece um prato de figos. Foi assim que meu pai abordou a jovem Laura, que estava vestida de preto, não por luto, mas por promessa. Casaram e não tiveram muitos meninos, só eu e meu irmão José Artur”

É com esta citação da Autobiografia de Agustina Bessa-Luís que Aniello Ângelo Avella inicia esta ligação entre literatura e cinema, presente nas obras de Agustina Bessa-Luís e Manoel de Oliveira.

Dissecando a escrita de Agustina, descreve-a como “uma espécie de escavação arqueológica dos sentimentos na tentativa de alcançar a origem, o Princípio do mundo, conforme o título de um filme famoso do cineasta.”

“Mas, como poderemos chegar ao mais íntimo do mais profundo da Natureza e da natureza humana, quando as tentativas de incursão se tornam tanto mais difíceis e obscuras quanto mais nos afundamos neste tipo de cousas?” pergunta Manoel de Oliveira referindo-se a Agustina.

O livro, edição da Universidade Federal de Minas Gerais, é bastante feliz nesta ligação a que não são naturalmente alheios nem o cineasta nem a escritora. Definitivamente a ler.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Obviamente demito-o: as eleições presidenciais de 1958, O General Sem Medo e o Movimento Nacional das Mulheres Portuguesas

Duas formas de dar a conhecer a nossa história e não apagar a memória.
Neste mês de Maio temos à disposição dois registos opostos de uma mesma realidade: o Portugal de 1958, atravessado pelas eleições presidenciais onde Humberto Delgado, candidato não oficial, ousou desafiar o regime.

Falo da biografia de Humberto Delgado, trazida a lume pelo seu neto Frederico Delgado Rosa, um espantoso trabalho de investigação que narra a par e passo a sua vida e se lê agradavelmente. Mas que só foi possível, claro, depois de uma recolha exaustiva de fontes.

Do outro lado do Portugal de 1958, está o Movimento Nacional das Mulheres Portuguesas, que Inês de Medeiros revela no seu documentário Cartas a uma ditadura, e cuja narração podem ler no Luís Galego, que o faz melhor que eu. Mas direi só umas palavras.

Resposta de um regime que se considera ameaçado, o documentário mostra um outro lado desse Portugal longínquo, revisitando essas senhoras que, em 1958, respondem à chamada.

Um documentário tranquilo, muito bem concebido e filmado, que permite ter uma visão de uma outra realidade, e que, mesmo desse lado do Portugal de 1958, apresentada vários registos.

Curiosamente, a maioria das senhoras entrevistadas não consegue definir Ditadura, mas também não o faz para Democracia, em registos de várias classes sociais. Aqui está uma questão que, em meu entender, devia merecer alguma reflexão.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Mezzo

E este fim de semana «descobri» mais um video interessante no Mezzo:
um dueto Sinatra/Elvis, completamente inesperado para mim. Não tanto o registo do Sinatra, diga-se em abono da verdade, mas mais o do Elvis Presley, que a minha memória reteve sempre na sua fase final, que nunca me disse nada. Estou a ponderar seriamente rectificar esse facto, comprando uma coisa que não houve cá em casa: um disco do Elvis Presley.

domingo, 18 de maio de 2008

A pensar morreu um burro





«A primeira vez que ouvia uma frase fazia-lhe confusão. Era muito estranho. Primeiro era uma excitação, parecia a descoberta de alguma coisa muito importante. Depois, e isso acontecia quase logo a seguir, não percebia o que a frase queria dizer. Vai passear macacos, por exemplo, soava-lhe bem e divertia-o mas não era capaz de imaginar uma fotografia para uma imagem assim. (…)

(...)



- Então, meu querido, que se passa? Estás a olhar o vazio?
- Não, mãe, estou só a pensar…
- A pensar? Olha, a pensar morreu um burro! Agora dorme que bem precisas. Um beijinho…

Sim, era só daquilo que ele precisava. Dois enigmas, dois mistérios. Aquelas frases, talvez por serem das últimas do dia fizeram-se-lhe música na cabeça. Não lhe saíam da cabeça. A olhar o vazio a pensar morreu um burro. Um burro. Um burro morreu a pensar a olhar o vazio. O vazio morreu a olhar um burro a pensar (…) »

(para perceberem todo o desenho têm que ler o resto da história... e vale a pena)

Um pequeno excerto da 1ª história do livro: A pensar morreu um burro e outras histórias
Texto de Hélder Moura Pereira e desenhos de Luís Manuel Gaspar.

(tive alguma dificuldade em escolher o texto/desenho…)

sábado, 17 de maio de 2008

Selecção musical

A selecção musical da semana vai para Billie Holiday, no seu registo de Georgia on My Mind, que estão a ouvir

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Make it possible ou lançar raízes




















Falar em conservação, descrição e digitalização de acervos fotográficos em Portugal implica falar no Luís Pavão ou, mais recentemente, na LUPA.


Por vários motivos: porque já o chamámos para projectos na instituição em que trabalhamos e com isso beneficiámos bastante (guilty as charged), porque já lemos as suas reflexões sobre estes assuntos (again...) ou porque já frequentámos as suas acções de formação (não, ainda não tive oportunidade...).


Tendo já tratado e estado envolvido em grandes e pequenos projectos de descrição, conservação e digitalização de acervos fotográficos nos mais diversos tipos de instituições, sejam arquivos, bibliotecas, museus, casas comerciais, igrejas, privados, enfim, uma panóplia de serviços, colecções, volume e diferentes tipos de registo de imagens que foram sendo tratados com uma postura profissional, serena e bem disposta (e estou a roubar a frase à Ana Paula Gordo) que quem conhece o Luís Pavão e a sua equipa sabe ser verdade, foi assim com todo o gosto que hoje me associei à comemoração dos 26 anos de actividade do Luís Pavão / LUPA.


Porque só com posturas destas e tamanha dedicação se criam as tais raízes. As que ligam os vários intervenientes dos projectos numa dinâmica muito própria que permite que todos os lados aprendam. Parabéns Luís Pavão. Parabéns LUPA.


E aqui vos deixo as raízes do também fotógrafo Luís Pavão.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Conhecer Pessoas




Conhecer pessoas é sempre um desafio.
É que, para além da pessoa, conhecemos também os seus gostos, as suas leituras, as suas músicas, etc., no que se pode revelar um admirável mundo novo.

Vem esta conversa a propósito da Exposição Recortes de Fantasmas da Ana Fraga. Ficam a saber, desde já, que a conheço, claro. Pior: conheço-a porque trabalhamos na mesma instituição, embora não a desempenhar as mesmas funções, e se há sítio onde é difícil conhecer pessoas é mesmo no nosso local de trabalho.


Assim, foi com especial interesse que visitei ontem a sua exposição, a cuja inauguração faltei, por motivos que não vêm agora ao caso.

E fiquei completamente rendida ao «mundo» dos Recortes de Fantasmas da Ana. Trata-se de um projecto de criação de personagens, baseado nos trabalhos de Sophie Calle, como refere a autora, mas, diria eu, com uma interpretação muito própria.
São assim apresentadas dez telas com as silhuetas de dez homens e dez recortes pintados em mdf da silhueta da autora em tamanho natural. Cada par tem um título e texto que os agrega e pode ter ou não um zoom.

Aqui vos deixo um dos meus casais preferidos: o poeta segurador, pedindo desde já desculpa pela não inclusão do texto, que pode ser lido e visto na Galeria Corrente d’Arte, na Avenida D. Carlos I, nº 109.

Acreditem que vale a pena a visita.

domingo, 11 de maio de 2008

Poemas de Amor no Antigo Egipto


I
Vem depressa para junto do teu amor,
Como o mensageiro real obedecendo à
Impaciência do seu amo - quer dizer, se
se acreditar, num mensageiro real.
Vem depressa,
Tens toda a coudelaria à disposição,
A carruagem pronta.
Nem o mais impetuoso dos cavalos
- Quando a encontrares -
Se aproximará da velocidade do teu coração.
II
Traz o teu ímpeto
À casa da tua amada,
Tu que és o orgulho da coudelaria do rei,
Escolhido de entre uma centena de puros-sangues,
Treinado com ração especial,
Que partes em galope sem igual
à mera menção da palavra estribo,
Sem mesmo o treinador
(Que é hitita)
Poder segurar-te.
Como ele conhece bem o coração dela
A que há-de ficar sempre ao seu lado.
III
Vem como a gazela do deserto
Obrigada a ziguezaguear em nervosa pressa
Atravessando os trilhos e voltando
Com medo do ganido dos cães e do caçador;
E que finalmente se decide por uma veloz linha recta
Com um olho no lugar deixado.
Estás a salvo dentro da casa da amada
Beijando-lhe as mãos, fazendo-lhe
A sincera proclamação do teu amor,
Fazes tudo isto
Tudo isto no interior da grande e pré-concebida organização
Da deusa do oiro

sábado, 10 de maio de 2008

Um dia especial



Preparei-me cuidadosamente para este dia; afinal é um dia especial.

Indecisa quanta à designação, cheguei mesmo a comprar um livro de princesas para poder decidir qual o melhor termo, mas não me serviu de muito, confesso.

Assim, e após uns momentos de reflexão, cheguei à conclusão que este dia é o Dia da Princesa da Turra da Tia.

Para que a conheçam, aqui deixo um desenho, onde nos podem ver a passear no Jardim Zoológico, ao pé de um animal cujo nome não me vem agora à memória.

E para si, Princesa, uma Turra. Parabéns, querida!

E falando em campo, outros olhares, outras histórias





E porque esta semana estou virada para outros tipos de registo, aqui fica mais outra área, a propósito de um livro que acabou de sair: O Eucaliptal em Portugal.

Sendo uma árvore muitas vezes tão mal amada, tive alguma curiosidade em ver o que dela se poderia dizer, e logo num volume de 398 páginas!

Começando pela sua história, isto é, pela história da sua introdução em Portugal, o livro, de múltiplas autorias, vai analisando os vários factores relativos à plantação do eucalipto: produtividade, recursos hídricos, solo, biodiversidade, fauna selvagem, agentes bióticos, silvicultura pós-fogo em eucaliptais, impactos sócio-económicos, modificação das paisagens e influências das alterações climáticas. Um verdadeiro descascar da árvore.

Numa altura em que tanto se fala dos recursos naturais, é bom ver aparecer estudos assim.

E, porque nos Arquivos se guarda a memória de várias Histórias, aqui deixo mais outra referência: a da História Florestal, Aquícola e Cinegética, conjunto de 7 volumes com a memória de documentação sobre aquele assunto existente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo entre 1208 e 1583, seja em sumário, seja em transcrição.

Aqui deixo três registos daí retirados. Três pequenas histórias.


Também podem ver que as minhas habilidades no domínio da digitalização não estiveram hoje no seu melhor...

Acabar a semana a passear de charrette pelos campos da Golegã…




… onde a vida pode ser quase, quase perfeita.


Sempre achei o cavalo um animal nobre, elegante e bonito. No entanto, da nobre arte de cavalgar em toda a sela, apenas recordo umas longínquas (e poucas) aulas de equitação quando fiz a 4ª classe… Faz tempo.

Contudo, quando me perguntaram se queria ir à chamada capital do Cavalo – a Golegã – pois claro, por ocasião da Feira da Égua, participar na Romaria de S. Martinho e ainda andar a passear de charrette, pareceu-me o programa ideal.

E foi! Aprendi várias coisas sobre cavalos (sabiam que há “normas” para dar nomes aos cavalos? Estamos no ano da letra C ou D, já não me lembro bem. Assim, qualquer cavalo nascido este ano, só pode ter um nome começado por C ou D (não me lembro mesmo qual a letra certa). Ou como distinguir as raças dos cavalos, mas essa parte é mais complicada…

Mas, sobretudo, foi um dia muito bem passado, onde fui bem recebida, apreciei e participei. Entre a romaria, a missa, o almoço que se preparou sem estar no programa (dado que chovia copiosamente) na Quinta dos Álamos e o passeio em charrette pelo campo, onde o convívio foi agradável e um bom vinho branco ribatejano também, posso dizer que a vida por aqueles lados, de facto, pode ser quase, quase perfeita!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Selecção musical


Ninguém perguntou, mas caso não tenham identificado, a anterior selecção musical era Ray Charles, num registo inicial, que muito aprecio.


Para esta semana, aqui deixo Bluesette, um tema de Toots Thielemans, aqui interpretado por Jimmy Smith, no seu Album Who's Afraid of Virginia Woolf?

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Xiloteca, uma «teca» de outra natureza



No tempo das Ludotecas, Videotecas, Fonotecas, Bedetecas, etc e tal, as Xilotecas estão noutra categoria à parte: a das colecções de amostras de madeiras identificadas quanto à espécie a que pertencem e devidamente ordenadas e catalogadas. Como se de uma Biblioteca se tratasse, substituindo os livros pelas madeiras.

Vem isto a propósito de um outro passeio por outro bairro, por outro jardim: o Jardim Botânico Tropical, sito à Ajuda, cuja história pode ver aqui, feliz detentor de uma xiloteca, pois claro!

No seu Índice Geral, elaborado em 1986, constam 2670 espécies, e, se nunca viram uma Xiloteca, vão ao Jardim Botânico Tropical: é uma «teca» diferente, mas não menos interessante e aliciante.


Outras Xilotecas a explorar (virtualmente):

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A cada um o seu paxalique



Paxalique: Província governada por um Paxá (do turco paxalik).

Alertada pela Cidadã G., essa fonte inesgotável de bons conselhos, tomei conhecimento, a propósito do livro O Renegado, cujo resumo do conteúdo podem ver aqui, de um novo (para mim) termo: o paxalique.

O romance traz, aliás, um pequeno glossário para orientar os leitores. Quanto a Fernando del Pozo, mais tarde Solimão Qurtubí, paxá de Tombuctu, personagem central deste livro, o melhor mesmo é perderem um pouco de tempo, ganhando em conhecimento, a lê-lo.

A cada um o seu paxalique.

Pensar incomoda como andar à chuva

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural .
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro

A propósito (vagamente) do Maio de 68.

domingo, 4 de maio de 2008

Entretanto noutros bairros de Lisboa


Passeando hoje com os três laranjinhas pelo Jardim da Estrela, tornei a dar de caras com a Arts and Crafts (não sei bem se se chama assim, mas hoje já aprendi que é no primeiro domingo de cada mês).

E, como é o Dia da Mãe, as paredes cá de casa ficaram mais bonitas com as seguintes imagens:


De Ana Oliveira, a da direita (já aqui tinha usado um dos seus desenhos sem mencionar a respectiva autoria). Aqui fica o meu pedido de desculpa à autora, que pode ser vista aqui.


De Eunice Rosado, a imagem da esquerda, autora que pode ser vista aqui.

sábado, 3 de maio de 2008

Alive and kicking – Os Rolling Stones, Scorcese e a história da música, afinal uma parte da história do nosso tempo

Desde o início do seu blog que tenho dito à Paula que as suas críticas de cinema são muito boas, já me tendo levado a ir ver filmes que, à partida, não tencionava.

Ontem, ao ler a crítica ao filme Shine a Light, onde Scorcese filma os The Rolling Stones, permiti-me, pela primeira vez, discordar de uma perspectiva da carreira Scorcesiana talvez menos conhecida: a dos seus registos de bandas/ músicos. Conheço apenas três: a The Band – The last Waltz, Bob Dylan – No direction home e agora os Rollong Stones – Shine a light, que ainda não vi (se alguém conhecer mais, por favor diga-me). Todos têm, quanto a mim, uma mesma abordagem, uma escolha criteriosa do tipo de músicos e do tipo de registos que se quer passar à história.

Para mim, que não concebo viver sem música, é sem dúvida uma parte da minha história.

Mas voltando aos Stones, banda da qual sou fan, aqui fica um registo deles que sempre apreciei: You can’t always get what you want

E como continua o refrão:
but if you try sometime you find
You get what you need
para os mais exigentes, aqui fica a letra completa.


[chorus]I saw her today at a reception
A glass of wine in her hand
I knew she would meet her connection
At her feet was her footloose man
No, you can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
And if you try sometime you find
You get what you need
I saw her today at the reception
A glass of wine in her hand
I knew she was gonna meet her connection
At her feet was her footloose man
You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you might find
You get what you need
Oh yeah, hey hey hey, oh...
And I went down to the demonstration
To get my fair share of abuse
Singing, "We're gonna vent our frustration
If we don't we're gonna blow a 50-amp fuse
"Sing it to me now...You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes well you just might find
You get what you need
Oh baby, yeah, yeah!
I went down to the Chelsea drugstore
To get your prescription filled
I was standing in line with Mr. Jimmy
And man, did he look pretty ill
We decided that we would have a soda
My favorite flavor, cherry red
I sung my song to Mr. Jimmy
Yeah, and he said one word to me, and that was "dead"
I said to himYou can't always get what you want, no!
You can't always get what you want (tell ya baby)
You can't always get what you want (no)
But if you try sometimes you just might find
You get what you needOh yes! Woo!
You get what you need--yeah, oh baby!Oh yeah!
I saw her today at the reception
In her glass was a bleeding man
She was practiced at the art of deception
Well I could tell by her blood-stained hands
You can't always get what you want
You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You just might findYou get what you need
You can't always get what you want (no, no baby
)You can't always get what you want
You can't always get what you want
But if you try sometimes you just might find
You just might find
You get what you need, ah yes...

E com esta me vou. Então bom fim de semana. E já agora vão ao cinema. E ouçam música.

Entretanto, noutras latitudes, outras bibliotecas, outras integrações.

Conheça aqui o Bibliomigra, projecto italiano que inclui uma biblioteca multi-étnica ambulante. Nela podem-se encontrar livros, jornais e revistas em mais de 20 línguas.

Não se limita a ser uma tradicional biblioteca que tem livros para ler, antes pelo contrário: tem um carácter experimental educativo que, através de actividades como dança, leitura em várias línguas, teatro e música promove outras formas de integração, onde o integrado também contribui com a sua cultura para a integração da comunidade que o acolhe com as novas realidades multi-étnicas em que as nossas cidades se transformaram.

Um projecto e conceito muito interessante, do qual tive conhecimento pela Catarina. (Olá Catarina).

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O meu Bairro e a minha Biblioteca


Moro num bairro de Lisboa, desses raros que, em termos demográficos, tem tido uma renovação da população, vendo-se, cada vez com mais frequência, pessoas novas misturados com as famílias tradicionais do bairro. Para além disso, o bairro tem-se tornado também mais internacional e multi-étnico. Falo do Bairro da Penha de França, para onde vim morar, se a memória me não falha, em 1994, e que adoptei como meu e onde fui, de resto, adoptada.

Não pensem, no entanto, que se trata de um bairro novo, antes pelo contrário, como podem ler aqui.

Talvez por isso, não posso deixar de aqui referir o papel crucial da Biblioteca da Penha de França no desenvolvimento e integração cultural da comunidade. Leitora que sou desta Biblioteca e conhecedora do que é estar do outro lado do balcão, é sempre com grato prazer que, cada vez que a ela me desloco, vejo diferentes tipo de leitores, diferentes tipos de leituras. Que nos periódicos podem ir da Caras à Blitz, da Revista História ao Automóvel, do Le Monde Diplomatique à Veja. Já nas monografias vejo com igual interesse a consulta exaustiva das chamadas obras de referência (dicionários, enciclopédias, etc.) a par e passo de obras de poesia e teatro.
Na verdade, só assim é que entendo as bibliotecas públicas: como um serviço público.

Parabéns Biblioteca da Penha de França!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Prémios personalizados II

Prémio bailando na blogosfera.

Atríbuido à Blue e à Jasmim.

Prémios personalizados I


Prémio Prima Bailarina com Letras.

Atribuído, sem sombra de dúvida, à Blue, a bailarina letrada da Blogosfera.

Viver como um Homem diante de Deus

Ou quando nos entregamos, em comissão de trabalho, movidos pela fé, a um projecto educativo no contexto virtual emergente com uma crença no valor absoluto da educação.

E quando vemos o ecran como meio de acesso a novos mundos, para os quais podemos, à semelhança dos nossos antepassados, partir à descoberta, mesmo que não haja uma cartografia pré-estabelecida.

Para o meu irmão, cujo percurso e modo de estar na vida muito me orgulha, acabado de defender a sua tese de mestrado Projectos educativos no contexto virtual emergente, que também pode ser lido aqui.

Sursum corda!