sábado, 16 de fevereiro de 2008

Os salteadores do património perdido






Museu de Cabul: sistematicamente pilhado entre 1991 e 1996
Museu do Iraque pilhado em Abril de 2003. O seu director Mushin Asan, impotente, no museu.

A Guerra, directa ou indirectamente, é sem dúvida uma das maiores ameaças à conservação do património.

Mas não se pense que é a única.

Está patente ao público no Museu Nacional de Arqueologia a excelente exposição, que aconselho vivamente: História Perdida: uma exposição acerca do comércio ilícito de antiguidades no mundo, organizada pela Fundação Helénica da Cultura.

Com claros objectivos pedagógicos, a exposição traça a evolução histórica da noção de património histórico e património nacional, bem como do aparecimento das colecções e dos museus.
Percorremos assim casos sobejamente conhecidos como os do roubo dos mármores do Parténon por Lord Elgin em 1801, ou o saque da ilha de Chipre entre 1865 e 1876 e poderíamos apontar o caso do Iraque como um dos muitos deste século. Mas quantos outros foram feitos? Quantos museus enriqueceram os seus espólios com peças de origem duvidosa?
A verdade é que o tráfico ilícito de antiguidades é um mercado em expansão.
Embora a Convenção da UNESCO de 1970 para a “Adopção de medidas para proibir e impedir a importação, a exportação e a transferência ilícita da propriedade e de Bens culturais” esteja em vigor, o primeiro país que a assinou foi o Equador. Hoje em dia 109 países adoptaram a Convenção. Os Estados Unidos assinaram em 19883 e a Grã-Bretanha em 2003.

Mais importante que isso, o comércio de antiguidades passou a fazer-se com mais rigor, declarando os conservadores de museus que não iriam adquirir peças sem saberem a sua proveniência.
Thomas Hawing, director do Metropolitan Museum of Art terá dito, em 1970, “a era da pirataria acabou”. Nada podia estar mais errado. Porque, na impossibilidade de o próprio museu comprar se formaram grandes colecções privadas com origens desconhecidas, cujos proprietários muitas vezes passavam para as administrações de grandes museus. Porque peças roubadas aparecem nos museus anos mais tarde. Porque enquanto houver quem compre vai haver sempre quem venda.

E entretanto o nosso património perde-se. Falamos de museus. Mas também podiamos falar de bibliotecas ou arquivos: o panorama é o mesmo: em tempos de guerra saqueiam-se

10 comentários:

Oliver Pickwick disse...

No fim, tudo tem a importância de um grão de areia. O grande império da rainha das cidades, Babilônia, célebre pelo seu zigurate no qual deu-se a origem de todas as línguas - segundo a Antigo Testamento, e da solene muralha que, de tão larga, movimentavam-se quatro carros, lado a lado, segundo Heródoto, o pai da História. Em 2003, impotente, nas mãos de Mushin Asan.
Beijos, querida amiga, e olho vivo nos seus arquivos!

Outonodesconhecido disse...

Pois é. A guerra é sempr emuito lucratica para alguns e , infelizmente, o painel dos que ganham com ela é cada vez mais diversificado.
Boa semana

Leonor disse...

Caro Oliver

é isso mesmo, como de resto escreveu tão bem. O que não faltam para aí são relatos de roubos, pilhagens, etc. fora aqueles que não sabemos e cujas peças aparecem tranquilamente nas montras de antiquarios...
a história repete-se, repete-se e repete-se...

nos arquivos ficam os documentos que o provam

beijos

Leonor disse...

outono

na verdade é um problema global: enquanto houver miséria, falta de acesso a alimentação, à educação, emprego, etc, etc, etc... será dificil fazer parar este circuito.

as guerras são só uma das faces do problema... e o comércio ilícito de arte outro e não menos dispiciente...

o desplante com que alguns museus, sabendo que as peças que têm são roubadas, ainda se dão ao luxo de dizer que só devolvem no ano de ... é outra coisa que me deixa perplexa. e fazer o quê?

Boa semana também

jorge esteves disse...

Um dia, numa cena o personagem deveria dizer 'cheira-me a papel queimado' (isto na sequência de um outro personagem ter queimado um bilhete fulcral em toda a trama). Aconteceu, naquela representação, o dito personagem ter esquecido os fósforos; resolveu a questão rasgando-o em pedacinhos que, ostensivamente, lançou a um canto do palco. O outro, então, teve uma saída salvadora, e proclama 'cheira-me a papel rasgado!...
Isto só para me dizer que, aqui, há o inebriante perfume das folhas de muito livro...

Gostei!

Leonor disse...

Tinta permanente

E eu gostei da forma como o disse. volte sempre.

tenha uma boa semana

Paula Crespo disse...

Eu já conhecia a história contada por Tinta Permanente que, aliás, é deliciosa, e achei piada vê-la aqui.
Quanto aos salteadores do património, é mais um tipo de abuso, entre tantos, que é necessário contornar.

Leonor disse...

Paula

pois é, mas a exposição vale mesmo a pena: a lista é impressionante.

bsj

Ka disse...

Leonor,

Ia falar recisamente nos dois pontos que focaste:
1º o desplante com que certos museus diem que só devolvem a peça no ano tal
2º De facto este é um belo exemplo do valor do trabalho de um arquivista uma vez que é através dele que se consegue ver a proveniencia de uma peça ou então seguir o rasto dela.

Beijinho

Leonor disse...

Ka

pois é uma das formas... mas neste caso muito complicada.

boa semana, beijinho