domingo, 27 de abril de 2008

Os Arquivos e as Guerras

Ao longo da História, as guerras foram sendo sinónimo de “empréstimos” mais ou menos escandalosos de arquivos, sendo comum o conquistador levar, às vezes em grandes quantidades, arquivos dos territórios conquistados.

Por isso mesmo, surge em Arquivística o princípio da territorialidade, o qual determina que os arquivos devem ser mantidos sob a jurisdição arquivística do território onde foram produzidos.

Mas se os princípios podem ser enunciados, é mais difícil, no teatro da guerra, serem aplicados. Foi assim, com particular agrado que, através do Conselho Internacional de Arquivos, tomei conhecimento da Declaração Conjunta que a Society of American Archivists e a Association of Canadian Archivists fizeram a propósito da documentação desviada do Iraque, digamos assim, durante as duas Guerras do Golfo.

Nela são enunciados o tipo de documentação levada, aproximadamente o número e por quem. Vale a pena ler.

Costuma dizer-se que os arquivos constituem a nossa a memória. Subtrai-los equivale a apagá-la.

aqui tinha feito um post a propósito dos problemas que se colocam ao património, seja ele museológico, biblioteconómico ou arquivístico em caso de conflitos armados. Às vezes esquecemo-nos…

12 comentários:

Oliver Pickwick disse...

Esta é a minha praia: batalhas épicas, grandes estrategistas e poder. Enfim, a nobre Arte da Guerra.
Se existir vidas passadas, por certo já fui um lanceiro de uma parede de escudos da Idade Média, ou, um general estrategista da Antiguidade.
Muito interessante este seu artigo, não é por acaso que será a minha futura consultora. Se estivesse por um dia na antiga biblioteca de Alexandria, ou, na de Babilônia, em meio de todos aqueles documentos, seria o mais feliz dos mortais.
Continuo fã dos seus registros.
Um beijo!

Daniel disse...

Olá Leonor

Julgo saber o pouco do que fala, mas jamais me tinha ocorrido meditar sobre o assunto.
A confiscação nas guerras, terá a ideia primária de evitar vandalismos, o que poderia ser certo, se a seu tempo se desse a reposição na origem.
O certo é que isso não acontece.

Saudações
Daniel

Rui disse...

Lembro-me disso amiúde. Em relação às coisas que não arquivo. Tudo é caos. Tudo é perda antevista.
E lá se vai a memória.

Teté disse...

Pois, Leonor, mas na prática se existirem por lá documentos comprometedores para os EUA, vais ver que lhes dão sumiço...

Jinhos!

Alberto Oliveira disse...

... a nossa memória e a nossa história. Dos paises, das pessoas e dos vindouros. E como estes últimos poderão satisfazer a sua curiosidade sobre os antecessores, se as novas tecnologias forem bem utilizadas...

BlueVelvet disse...

Amiga,
o champagne espera por si lá na minha sala.
Com outra carinha, mas sempre eu.

Leonor disse...

Oliver

Percebo perfeitamente o seu entusiasmo, eu por mim também dava alguma coisa, enfim, talvez não só por reviver uma grande batalha, mas seguramente para poder sentir e viver tempos passados.

Mas que a Guerra é uma arte, da maneira como o diz, isso não tenho a menor dúvida, e gosto bastante de história militar e história das guerras, da qual tenho, aliás, bastante bibliografia.

beijos

Leonor disse...

Daniel

acho natural que, quando estamos numa situação de guerra, nos documentemos sobre o inimigo. Isso equivale, para todos os efeitos, a muita transferência de documentação. Afinal informação é poder, e não é por acaso que dizemos isso.
O problema vem depois. às vezes as pilhagens não se limitam a esse propósito; podem ter também contornos políticos (apagar a memória de factos, povos, etc.).

Quando o conquistador tem a faca e o queijo na mão por demasiado tempo, é sempre um perigo em termos arquivísticos... não é por acaso que o arquivo da resistência timorense, isto é a memória do povo de Timor que não se conformou com a invasão indonésia, resistiu ele próprio em tão mau estado, já que andou sempre escondido em casas afectas à resist~encia, ou mesmo ans montanhas.

volte sempre, já lá fui espreitar o seu canto, mas tenho que voltar com mais calme e tempo

Leonor disse...

Rui

normalmente o património museológico chama mais a atenção. Lembro-me que, quando se deu a invasão do Iraque, todas as televisões deram a notícia do assalto (não sei que outro nome lhe dar) ao museu de Bagdad. E realmente as imagens eram devastadoras.

A UNESCO tem uma convenção, agora não quero mentir, mas creio que é dos anos 50 - lá está, depois das guerras mundiais, sobre o património ameaçado em caso de guerras. Os países assinaram, mas ninguém cumpre, claro.

Seja pela acção das guerras, seja pelo comércio (que às vezes é pior, porque são roubos altamente especializados e cirúrgicos), a memória vai-se, de facto...

Leonor disse...

Teté

ora aí está uma coisa sobre a qual não tenho a menor dúvida. mas devo dizer-te que as poucas coisas que vou sabendo sobre os arquivos do iraque sei-as pelos arquivistas americanos. hoje, como à data da invasão, aliás.

Haver registo do que se perdeu já não é mau de todo. pelo menos sabe-se que existiu. Quando se perde e ninguém sabe que se perdeu, aí sim consegue-se eliminar completamente a memória seja do que for.
É como se nunca tivesse existido.

Leonor disse...

legível

sem dúvida. tenho sempre esperança nas novas tecnologias. já vi "milagres" acontecerem. E palavras, frases, textos serem trazidos a lume, preservando a nossa memória e a nossa história...

é sempre preciso sabermos onde procurar e sabermos olhar.

Leonor disse...

Blue

é sempre uma honra, lá estarei.

(esta semana foi um pouco caótica em termos de tempo. Não fiz o que queria a tempo, segue agora)

beijinhos