segunda-feira, 10 de março de 2008

A alma Japonesa




"É no Oriente, e em especial no Extremo Oriente, que as coisas comuns da criação ou os usos e costumes triviais da vida são susceptíveis de merecer um tal requinte de solenidade sentimental e de praxes de rito, que constituem um verdadeiro culto".

Tenho visto tanto post da Gi sobre o Oriente, a China, o Japão, enfim, acho uma verdadeira provocação e já lhe disse, de modo que achei que estava na hora de fazer o meu próprio post sobre um autor e tema que me interessou desde a minha juventude.

Estou a falar de Wenceslau de Moraes, esse escritor que, nas suas próprias palavras em 1928, se descreve assim a um japonês:


"Sou português. Nasci em Lisboa no dia 30 de Maio de 1854. Estudei o curso de marinha e dediquei-me a official da marinha de guerra. Em tal qualidade fiz numerosas viagens, visitando as costas da África, da Ásia, da América, etc. Estive cerca de cinco annos na China, tendo ocasião de vir ao Japão a bordo de uma canhoneira de guerra e visitando Nagasaki, Kobe e Yokoama.
Em 1893, 1894, 1895 e 1896 voltei ao Japão, por curtas demoras, ao serviço do Governo de Macao, onde eu estava comissionado na capitania do porto de Macao. Em 1896, regressei a Macao, demorando-me por pouco tempo e voltando ao Japão (Kobe). Em 1899 fui nomeado cônsul de Portugal em Hiogo e Osaka, logar que exerci até 1913.
Em tal data, sentindo-me doente e julgando-me incapaz de exercer um cargo publico, pedi ao Governo portuguez a minha exoneração de official de marinha e de cônsul, que obtive, e retirei-me para a cidade de Tokushima, onde até agora me encontro, por me parecer logar apropriado para descançar de uma carreira trabalhosa e com saúde pouco robusta.
Devo acrescentar que, em Kobe e em Tokushima, escrevi, como mero passatempo, alguns livros sobre costumes japoneses, que foram benevolamente recebidos pelo publico de Portugal."

Desde cedo o comecei a ler, primeiro nas edições da Parceria António Maria Pereira, que fui comprando, depois mais tarde ou porque herdei ou porque comprei, primeiras ou segundas edições, até ter a obra completa.
Fascinava-me aquela escrita que me transportava para o outro lado do mundo e para outra civilização que desconhecia e que me parecia ali tão bem descrita.

Quase conseguia, achava eu, ver pelos olhos de Wenceslau e descobrir essas pessoas tão diferentes de nós, mas que, pela narrativa ficavam tão próximas.

Naturalmente continuei a ler mais sobre o Oriente, sobretudo sobre o Japão, país que sempre me despertou mais curiosidade que a China. Forçosamente nunca iria ver a mesma Osaka onde Wenceslau tinha passado alguns tempos, e então quando cheguei aos filmes dificilmente se consegue vislumbrar naqueles conjuntos de arranha-céus aquele Japão a que os livros de Wenceslau me tinham levado.

Lembro-me sobretudo do filme Black Rain de Ridley Scott, onde se podia ver uma amálgama de antigo e novo Japão, ou o que nós ocidentais vemos e a forma em como eles orientais ainda regem as suas acções, apesar de, aparentemente por fora terem mudado.


A grande questão, contudo, que me ficou foi: se eu alguma vez for ao Japão, serei capaz de ter um relance da alma japonesa?
Daquela que existe por baixo do consumismo que vemos e de todas as apropriações do ocidente que fizeram?
Como Wenceslau de Moraes a viu?

Carta retirada daqui.
Saber mais sobre Wenceslau de Moraes aqui.

5 comentários:

Outonodesconhecido disse...

Há uma aprte do oriente que também me fascina imenso, outra nem por isso...
Boa semana

Leonor disse...

Ah, outono mas estes livros do Wenceslau de Moraes são de mais:))) parece que nos levam para outros tempos, outras civilizações e nós estamos lá num cantinho a observar tudo...
boa semana

Ka disse...

Que engraçado, este teu post transportou-me para a minha juventude e para leituras dos livros de Pearl S. Buck, que me fez tomar conhecimento da cultura e tradições chinesas.

Leonor, se não te importas não resisto a pegar no teu tema e fazer precisamente um post sobre ela :)

Beijos e boa semana

Leonor disse...

Olá Ka

ora essa leva o que quiseres. Agora que falas, tb passei pela fase Pearl S. Buck, mas o encanto do Wenceslau foi maior (e sobretudo diferente)

beijos

Sorobai disse...

Se querizer conhecer a verdadeira alma japonesa é só estar atenta aos pequenos detalhes, mas aconselho vivamente a sair dos grandes centros urbanos.