segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Eu, não fumadora, me confesso


Ano Novo, Vida Nova e... Lei Nova

Não, à partida não era coisa que me incomodasse ou me fizesse pensar muito, até porque, como digo, não sou nem nunca fui fumadora.

Assim, li as crónicas nos jornais, vi as reportagens nas televisões, bisbilhotei blogs, e ouvi comentários de amigos e, passados alguns dias, posso afirmar com algum grau de certeza que:

  1. até 31 de Dezembro de 2007 vivi comcerteza noutro planeta, quiçá em Marte. Apesar de ter resistido a quatro irmãos fumadores, a um pai ocasional fumador de cachimbo (e o que eu gostava do cheiro, meu Deus), e ainda mais ocasional fumador de cigarrilhas, a igual dose de amigos fumadores e não fumadores, bem como a colegas de trabalho, não eu nunca senti que vivia dominado pelos fumadores num ambiente nebuloso onde não se respirava outra coisa que não o tabaco. Nunca me senti obrigada a fumar os cigarros dos outros. Nunca estive numa situação em que não podesse resolver pacificamente uma situação de eventual conflito de interesses fumador / não fumador. Até porque a única situação em que o tabaco me incomoda é ao pequeno almoço e aí ou me afastava ou pedia para deitarem o fumo para outro lado. Lá está, naqueles cafés que parece agora mais ninguém ter conhecido. A única situação aonde não havia nada a fazer era de facto nos bares e discotecas, onde o cheiro se entranhava na roupa, não tanto me incomodando pelo fumo em si.
  2. A partir de 1 de Janeiro de 2008 descubro porém que continuo no mesmo planeta. Ou então estou na twilight zone. Sim, porque não dei porque o ambiente estivesse de repente purificado, porventura até algo campestre. A imagem da turista a dizer que assim se respirava o belo ar de Portugal no aeroporto da Portela fez-me duvidar das minhas capacidades de julgamento, uma vez que ninguém comentou comigo tal episódio do telejornal.
  3. Continuando a ter os mesmos amigos, digamos que a minha vida não mudou por aí além. Ou antes, mudou num aspecto: nunca frequentei tantas esplanadas no inverno. Sim, porque já que a DGS, através da sua Circular informativa nº 46/DIR/27/12/2007 (Cortesia da Escrita Privada) considera que nem por uma porta os fumadores podem estar separados dos não fumadores (pode abrir-se e passar fumo) e como não tenciono jantar sózinha, das duas uma: ou escolhemos restaurantes fumadores ou vamos a esplanadas, a mim é-me igual (não há nenhuma nuvem de fumo em nenhum deles)
  4. Mas sobretudo, o que verdadeiramente mudou foi a agora existência de grupos de cidadãos a fumar à porta dos seus locais de trabalho, de centros comerciais, you name it, ao frio e ao vento. Ao principio nem percebi o que era. Depois algumas reportagens de pessoas a esconderem-se porque pelos vistos não estavam autorizadas a interromper o seu horário de trabalho vieram elucidar-me. E essa visão incomoda-me.
  5. Nós os não fumadores ganhamos sem dúvida direitos, há pessoas mais sensíveis que outras ao fumo do tabaco.
  6. E os fumadores? Ganham-se realmente direitos quando os mesmos são conquistados à custa dos direitos dos outros?

Por isso resolvi decretar que neste blog Se Pode Fumar.

6 comentários:

Paula Crespo disse...

Ainda me lembro de fumar no Coliseu dos Recreios (e de que maneira!)e até nos transportes públicos.
É claro que os fumadores vêem restringidos os seus direitos e vêem-se relegados para "o fim da fila do fundo", parafraseando Chico Buarque, embora num contexto diferente. De repente, passaram a ser tratados como cidadãos de segunda e o simples acto de fumar passou a ser encarado como um desvio à norma, um acto clandestino, quase. Esquisito...
A vantagem que vejo nisto tudo é o facto de se passar a fumar menos, o que, apesar dos protestos generalizados, beneficia os próprios fumadores que, mais cedo ou mais tarde, acabarão por se habituar e criar as suas próprias rotinas. O Homem é um animal de hábitos e estou convencida que é o que vai acontecer, muito em breve.

Anónimo disse...

e eu, fumadora, me confesso. Passei a fazer parte do grupo de clandestinos parados à porta de cafés, restaurantes, emprego, etcs. À conta disso até já conheci pessoas que, como eu, estão a ver se arranjam uma bela constipação no início do ano. Mas tudo bem, penso eu, desentorpo as pernas e desanuvio a cabeça.
Parabéns, o blog, ou a página ou lá como é que isto se chama está muito bonito. vá e agora todos os que vierem aqui e virem a manifestação desta ignorância informática podem perorar à vontade sobre o tema! vcb

Anónimo disse...

pois, também sou desse tempo dos concertos. em relação a esta situação acho um franco exagero. Ontem fui tomar um café ao República e, como de costume sentei-me na esplanada, e por acaso tive mesa. Quando fui pagar, para meu espanto, a sala que customa estar cheia estava vazia, LT oblige.
Já estou mesmo a ver os não fumadores fundamentalistas no verão a reclamarem que querem estar nas esplanadas e não podem...

Leonor disse...

vcb, vcb ???? epá até tive que pensar quem era :))))

está por acaso a fugir ao fbi e ninguém sabe de nada???

bsj

Ka disse...

Excelente texto.

Eu sou ex-fumadora (facto de que me orgulho imenso pelo que me custou deixar de fumar) e realmente aprecio estar em locais sem fumo no entanto acho esta lei um exagero! E compreendo muito bem a necessidade que existe de se fumar um cigarro pois é um vício. E num país onde há salas de chuto, onde é legal abortar, de repente é ilegal fumar num sítio fechado...para mim não faz qualquer sentido.
Acredito que deveria haver bom senso, coisa que há muito tempo o Estado não tem.

Gostei muito deste blog e vou fazer link, posso?

Beijinho e um excelente dia :)

Leonor disse...

olá Ka

pois é, o cúmulo do ridículo foi um director duma prisão qualquer dizer (antes da lei entrar em vigor) que, como não tinha hipóteses de fazer separação fumador/não fumador seria proibido fumar naquela prisão. Ora sendo a população prisional constituida por 70% de fumadores, e, mais do que isso, havendo o programa de troca de seringas nas prisões, estamos a proibir o quê???

obrigado pela visita, claro que pode fazer o link

beijinho e boa noite