terça-feira, 8 de setembro de 2009

Blues da morte de amor

Já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal não morri, como se vê, ah não
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes. uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
ao lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete:- morrer ou não morrer, darling, ah, sim.

Vasco Graça Moura (Porto, 1942)

5 comentários:

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Sua poesia é forte e tem um que de saudade.
As metáforas falam por si.Perfeita!
Um abraço querida Leonor

josé luís disse...

... os azuis são forever ...

Leonor disse...

Obrigada Martha, ainda bem que gostou

Boa semana!

Leonor disse...

Bom, Zé Luís, era dificil não comentares...

beijinhos

Sofá Amarelo disse...

Acho que ainda se morre de amor... não se morre de uma vez mas aos pouquinhos... o que é pior!

Vasco Graça Moura no seu melhor...