quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Menos de dois dólares, de José Tolentino de Mendonça

“(...)A verdade é que cada um de nós traz vazios, por preencher, carências e interrogações submersas, desejos calcados que procura compensar da forma mais imediata. Não é propriamente de coisas que precisamos, mas, à falta de melhor, condescendemos. À falta desse amor que nem sempre conseguimos, desse caminho mais aberto e solitário que evitamos percorrer, à falta dessa reconcialiação connosco mesmo e com os outros que continuamente adiamos... O consumo desenfreado não é outra coisa que uma bolsa de compensações. As coisas que se adquirem são, obviamente, mais do que coisas: são promessas que nos acenam, são protestos impotentes por uma existência que não nos satisfaz, são ficções do nosso teatro interno. Os centros comerciais apresentam-se como pequenos paraísos, indolores e instantâneos. Infelizmente, de curtíssima duração também.

Li há dias, e impressionou-me muito, que, quando Ghandi morreu, os bens materiais que deixou valiam menos de dois dólares (...) . Os bens espirituais e civis que legou ao futuro tinham, porém, uma dimensão incalculável.(...)”
in Revista Expresso, 4 de Janeiro de 2014, p10.

2 comentários:

josé luís disse...

bemvinda ;)

Leonor disse...

Obrigada! Na verdade, já devia ter sido à mais tempo, mas uma série de problemas técnicos fizeram-me ir adiando... tu andas por onde?