Gato
Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pelo, frio no olhar!
De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
Ainda sem palavras, sem enredos,
Quem somos nós, teus donos ou teus servos?
Alexandre O’Neill, in Abandono vigiado, 1960
5 comentários:
Em resposta à última pergunta, acho que somos mais servos do que donos... :)
Beijocas e as melhoras do pé!
olá Leonor
Esta poesia bem portuguesa (de que gosto) reflecte bem o trabalho poético de O'Neill, que li, em facetas. Aliás, também há uma poesia de Baudelaire intitulada Les Chats. Não é das mais conhecidas, mas existe.
Muito bem escolhida.
Continuação de boas melhoras.
Um forte abraço
Francisco
estou a (re)conhecer este poema... ;-)
Alexandre tem um estilo muito seu, que se reconhece à primeira linha, quase.
Bem hajas, linda!
Olá, que te desejo feliz semana!
Enviar um comentário