domingo, 20 de abril de 2008

Pedras que falam: um novo olhar sobre a Igreja de São Roque



Todos nós já as pisámos, já nos desviámos, já as tentámos ler… enfim, entrar numa Igreja ou num monumento significa, mesmo para a pessoa mais distraída, tropeçar, mais cedo ou mais tarde, com alguma tampa de sepultura, uma lápide, uma qualquer pedra que fale… resta saber se nós as ouvimos…

Ontem de manhã, integrada no Grupo Eu Lisboa, visitei a Igreja de São Roque, para a ver sob um outro ponto de vista: a das suas lápides e tampas de sepulturas e ouvir o que elas nos têm a contar.

Guiados pela epigrafista Filipa Avellar, cuja competência profissional nestas matérias é sobejamente conhecida, a visita, sempre com ponto de partida e chegada nas tais pedras que falam (e se abundam naquela Igreja), começou com a o problema da peste no século XVI e a difusão do culto a São Roque, passou pelo fascínio pelas relíquias e o papel que desempenharam durante a Contra-Reforma e continuou com a chegada dos Jesuítas a Portugal, o seu papel na sociedade portuguesa, a Confraria da Misericórdia… , tudo isto ao longo dos mais variados tipos de lápides, outros tantos tampos de sepulturas, enfim, numa outra forma de contar e ver as coisas (neste caso a Igreja de São Roque) que se revelou, como seria de esperar, aliciante.

Obrigado Filipa.

Da próxima vez que tropeçarem com algumas pedras que falem, não digo parem, escutem e olhem, mas parem, vejam e pensem. Às vezes temos surpresas agradáveis. Por mim falo também.

15 comentários:

Paulo Tomás Neves disse...

Este blog está pleno de registos, muito bons registos, obrigado por continuar a registar desta forma :-)

Paula Crespo disse...

Um monumento fala por "todos os poros", ou seja, por todas as pedras, por todos os detalhes. As pedras tumulares são mais uma fonte de informação em que podemos ler e aprender. Normalmente pisamo-las, sómente...
Bjs

Ka disse...

Leonor,

Sabes qual a impressão que tenho, pelo menos aqui no Porto, é que nas visitas a Igrejas são poucas as vezes que conseguimos encontrar este tipo de informação. Quem lá está limita-se a dar umas achegas gerais e mais nada, o que é uma pena...

Obrigada pela partilha :)
bjs

Lyra disse...

Que bom é lermos o nosso passado ludo! Especialmente desta forma invulgar emanada pelas pedras.

Beijinhos e até breve.

;O)

Anónimo disse...

Também destaco a qualidade dos registos

Gi disse...

Para ti,
As pedras


As pedras falam? pois falam
mas não à nossa maneira,
que todas as coisas sabem
uma história que não calam.

Debaixo dos nossos pés
ou dentro da nossa mão
o que pensarão de nós?
O que de nós pensarão?

As pedras cantam nos lagos
choram no meio da rua
tremem de frio e de medo
quando a noite é fria e escura.

Riem nos muros ao sol,
no fundo do mar se esquecem.
Umas partem como aves
e nem mais tarde regressam.

Brilham quando a chuva cai.
Vestem-se de musgo verde
em casa velha ou em fonte
que saiba matar a sede.

Foi de duas pedras duras
que a faísca rebentou:
uma germinou em flor
e a outra nos céus voou.

As pedras falam? pois falam.
Só as entende quem quer,
que todas as coisas têm
um coisa para dizer.



Maria Alberta Menéres, Conversas com versos




com um obrigada muito grande pela tua presença mesmo na minha ausência. É bom saber que há quem nos visite sem esperar o retorno, há quem não se compadeça .


Creio que o que aqui te deixo tem muito a ver com este teu (excelente) registo.


beijos

Rui disse...

É por isso que, nalgumas igrejas, ando sempre aos ésses e aos pulinhos. Custa-me pisar de quem as pedras falam.

Leonor disse...

Paulo Tomás Neves

Bem vindo ao Registo, agradecendo desde já o elogio.

boa semana

Leonor disse...

Paula

Sim, os monumentos falam... nem sempre os escutamos, mas isso já é outra conversa...
bsj

Leonor disse...

Olá Ka

ah, pois e o Porto tem umas igrejas fantásticas a esse nível. O estudo da epigrafia não está, e é pena, muito desenvolvido ou melhor reconhecido... e claro que em guias turísticos mais generalistas esssa informação não é passada, até porque há muito pouca coisa escrita e acessível. É uma pescadinha de rabo na boca...
Esta visita foi guiada por quem sabia (estou a falar à vontade porque a Filipa é minha amiga)mas se procurares bibliografia escrita com informação sobre o que foi dito ali provavelmente não escontras...
enfim, ainda há muito por fazer. Mas também tem que se dizer que já muito foi feito

beijinhos, boa semana

Leonor disse...

Lyra

é, também acho, só temos que estar atentos, ou então sabermos ver quem nos possa chamar a atenção

boa semana

Leonor disse...

Anónimo

muito obrigada, volte sempre

Leonor disse...

Olá Gi, é sempre um prazer ver-te por cá

Não conhecia estas pedras da Maria Alberta Menéres mas gostei imenso de as ler, casam muito bem com as minhas.

Não tens que agradecer. Não vou dizer que não gosto de conversar, mas não passo só porque passam, nunca foi esse o meu registo.
E nunca o faria contigo.

beijinhos, boa semana

Leonor disse...

Rui

como te compreendo!!! também faço essas figuras "ridículas", às vezes verdadeiras gincanas...

e quando os bancos estão por cima delas??? até doi !!!

boa semana

Domenico Condito disse...

Olà Leonor!
Fico muito feliz em encontrar portugueses no meu caminho. No ano passado fui a Lisboa, onde colaboro com o Museu de São Roque para uma pesquisa histórica, que vai ser editata em Itália no próximo ano. Gostei muito dessa cidade, da sua gente, da sua arte e da sua música. A minha estadia em Lisboa foi magnifica. Se Deus quiser, vou voltar na próxima primavera. Moro em Milão, mas sou originario duma aldeia chamada Stalettì, que fica ao longo da costa jônica do Golfo de Squillace, em Calabria, uma região do Sul da Itália.
Gostei muito desse post e teu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre.
Desejo-te um Feliz Ano Novo. Que venha 2009, com muita paz, saúde e prósperidades.
Domenico Condito - Italia

http://utopiecalabresi.blospot.com

http://utopiecalabresi.blogspot.com/2008/12/riapre-il-museu-de-so-roque-di-lisbona.html