O Saltitão, gato da vizinha do prédio ao lado, desde muito pequeno começou a trepar muros, vindo em busca de aventuras e, sobretudo companhia, ter com o Bernardo, meu gato, não tão aventureiro.
Faziam assim uma boa parelha, explorando tudo e mais alguma coisa a que conseguissem chegar pelos muros e quintais nas traseiras e também entretendo-se a saltar para a rua quando apanhavam a janela aberta.
Por causa dele, tive de resto uma conversa que ainda recordo, na mercearia da esquina, onde, determinada vez me perguntaram: "não é para sua casa que o gato da minha mãe vai?" sendo a senhora em questão mais velha que eu.
Não faltando um dia para brincar (e comer...), testemunhou a chegada do Patas, gato que "aterrou" no quintal todo ferido (duas patas partidas, cheio de sangue) a quem tratei e que, numa primeira fase comia e ìa à sua vida. Mais tarde, e com todos de acordo, o Patas tornou-se inquilino cá de casa.
Voltando ao Saltitão, foi sempre o gato mais caçador, aparecendo de vez em quando, com um pardal na boca, o que me tirava do sério, mas a ele enchia de orgulho.
Quando a sua dona morreu o Saltitão fez as malas e, sem hesitar, apresentou-se à minha porta. De resto, a única novidade era realmente passar a dormir cá.
Tornou-se um gato um bocadinho mais carente, mas, como bom gato que era, disfarçava isso.
Ultimamente tinha a mania, como peso pluma que era, de se sentar em cima do teclado do meu portátil quando estava a funcionar, imagino eu para sentir calor. Foi durante uma dessas ocasiões que o teclado perdeu o revestimento da tecla Ç, já que, tentando eu tirá-lo de lá, o Saltitão inesperadamente resolveu agarrar-se às teclas, como se disso dependesse a sua felicidade.
Na escala dos afectos cá do bairro, o preferido é o Patas (o branco e amarelo) que passou de gato de rua a gato burguês, gordo e anafado. Esperto, usa o facto de ter ficado com uma pata defeituosa, para, com miados a quem passa, exigir constantes festas, que, de resto, retribui.
O Bernardo (o cinzento) primeiro gato e dono da casa é o mais conhecido. Pelo nome, pelo facto de insistir em visitar qualquer vizinho que deixe a janela da rua ou porta das traseiras abertas, mas também por disputar as festas a quem passa. Tem também a mania (pouco inteligente, mas é um gato com mau feitio) de lutar com cães.
O Saltitão sempre foi o mais discreto. O gato mais tipo gato, portanto. Saltava da janela e ìa à sua vida (normalmente ao talho ali da esquina pedir carne). As pessoas ainda o conheciam como o gato que era da dona Z., mas ele não se preocupava, instalava-se ao sol e não ligava a quem passava.
O Saltitão morreu hoje, depois de resistir meses a uma doença. Foi o último a chegar e o primeiro a partir.
16 comentários:
... mas, com tal hospedeira, tenho a certeza de que viveu regalado e feliz :)
beijinhos!
Oh Leonor. Sinto muito, sei da afeição que criamos com esses bichinhos, com esses companheiros que nunca reclamam. Criam-se laços quase como se de gente se tratasse e a sua partida é dolorosa.
Traçaste aqui um retrato do Saltitão de uma forma muito ternurenta. Repito o que o Eridanus disse, deve ter tido uma vida feliz contigo.
Um beijinho
(hoje já actualizei grande parte dos links que me faltavam,, o teu já lá está, aguardo outra "aberta" para os põr em ordem :) )
outro beijinho
ah, isso também me parece eridanus, nunca tive reclamações...
beijinhos
Obrigado Gi
eu sempre vivi com animais: em casa dos meus pais tivemos cães, piriquitos, peixes, uma tartaruga e hamsters, do que me lembro.
Agora tinha escolhido gatos, que era um animal que não conhecia bem.
Mas aprendi a gostar, e é como tu dizes, nunca reclamam e criam-se laços...
beijinhos
Leonor gostei muito do teu post, apesar da triteza é uma linda história de vida. eu adoro felinos, tenho 2 gatos e nem imagino o que será quando eles partirem. Fazem parte da família. quanto a gatos e teclado, ou computador no geral (tenho portátil) sei bem do que falas. O meu gato pesa 9800kg e adora dormir em cima do teclado enquanto tento trabalhar; ela acha que faço muitas festas a outro animal qualquer (o rato) e como boa siemesa resolve atacar o pobre rato(já vou no 3º) e pôr a cabeça dela debaixo da minha mão. Aventuras...
outonodesconhecido
é, fazem mesmo parte da família, a pessoa habitua-se a contar com eles, a prever as suas necessidades e manias...
mas 9800Kg em cima de um teclado??? o meu pesava só 2500Kg... como é que o teu teclado e gato resistem? bom, não resistem...
Olá, amiga
Fiquei com muita pena do Saltitão, sei que era um adoptivo muito querido...e acabou por ter uma boa vida, graças à dona extremosa que encontrou. Os bichinhos são como nossos filhos, não é?Afeiçoamo-nos a eles e eles retribuem generosamente, por vezes mais do que as pessoas. Se precisares de alguma coisa, conta comigo. Beijinhos grande,
Paula
Lamento imenso Leonor...
Beijinho grande
obrigado Paula, o Bernardo e o Patas (que ontem estiveram um pouco mais carentes) agradecem e eu também
beijinhos
obrigado Ka, a vida vai acontecendo
Olá Leonor
Fiquei triste com a tua notícia.
Agora o Saltitão saltita noutros teclados fazendo com eles a música das esferas celestes.
beijos para todos, os de 4 patas e a de 2.
Sofia
Olá Sofia
não há nada como a tua forma de ver as coisas, sim, certamente ele saltita noutros lados...
beijinhos
e eu só vi agora... porque é que não disse nada? não precisou de ajuda?
como é que estão os outros gatos? e a dona?
bjs
veva
Leonor, tenho muita pena...
Um grande beijinho!
Paulo
veva
não disse nada a ninguém, só publiquei o post.
estamos todos a procurar novos espaços
bsj
obrigado Paulo, beijinhos
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