Simão Bacamarte, o maior dos médicos do Brasil, Portugal e das Espanhas, estudara em Coimbra e Pádua.
Tendo regressado ao Brasil, mais concretamente à vila de Itaguí, e uma vez que possui como único emprego a ciência, dispõe-se a estudar a saúde da alma, ocupando-se assim dos dementes.
Para tal tarefa, propõe à Vereança a instalação de todos os loucos de Itaguí numa só Casa, da qual ele mesmo se encarregaria, ideia que gera alguma controversia por não ser costumeira á época.
Mas quem tem autoridade para dizer quem é louco? Bacamarte ensaia uma classificação entre furiosos e mansos, mas depressa se apercebe que a loucura, que outrora pensava ser uma ilha no oceano da razão, se assemelha mais a um continente.
De internado em internado, muita reclamação se começa a gerar no povo, surgindo a questão: "se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?"
Da rebelião que se segue até a solução final, este Alienista, publicado pela primeira vez em 1881, é uma visão mordaz de uma época e de uma certa forma de encarar a ciência.
No centenário de Machado de Assis, eis um conto que merece ser lido. E, uma vez que estamos a desenvolver a Lusofonia, porque não trazermos autores de língua portuguesa para os programas dos Liceus, em vez de nos ficarmos apenas pelos autores portugueses?
12 comentários:
Concordo inteiramente com a tua sugestão final, até porque acho uma pena escritores e poetas lusófonos, nomeadamente brasileiros, angolanos e moçambicanos serem tão pouco divulgados em Portugal.
Quanto ao conto (livro?), pareceu-me bem interessante. Mas este ano já decidi que não compro mais livros e, mesmo assim, duvido que consiga acabar todos que tenho em "stand-by"... ;)
Beijoca!
sempre atenta a culturalidade e cultaralidades do mundo querida amiga - estou completamente de mente e palavra ao teu lado
:-)
... Bacamarte achava ter a razão de seu lado. Ou seja, decidia quem era louco ou não. Aqui para nós que ninguém nos ouve, não me importava nada de integrar um júri dessa natureza. Mas invertia as regras do jogo: os doidos cá para fora, ou outros para a Bastilha...
... os outros para... Assim é que é. .
Excelente ideia essa, Leonor: divulgar autores angolanos (José Eduardo Agualusa nascido em Huambo, Angola, in 1960, brasileiros (Dom Casmurro e o fundador Brás Cubas já vão sendo conhecidos, foi melhor Alienista).
A Bastilha também está óptima. Um abraço, Francisco
Teté
Na verdade, nunca percebi bem porque não o fazemos... só tinhamos a ganhar!
o livro tem mais contos, mas este é muito interessante... mas estou como tu: tb tenho uma pilha em stand by... o quye vale é que leio tb nos transportes (uma das vantagens de não ter carro...)
bsj, boa semana
Obrigada Edu, existem tantos autores lusófonos interessantes...
Bsj, boa semana
legível
Bacamarte achava ter a razão e a ciência do seu lado... a tal ponto que poucos poderiam escapar ao ser veredicto (nem a sua própria mulher.. a certa altura da vida podemos ser todos um pouco loucos)e quem o poderia por em causa?
mas integrar um júri desta natureza seria sempre muito complicado... só mesmo para a tua sugestão
(mas o conto tem um volte-face delicioso)
Boa semana
Olá Francisco, ainda bem que gostou da ideia.
E sim, mais vale falar nalguma obra menos conhecida
Boa semana, lá nos veremos
Acho bem. Mas era bom que no Brasil se fizesse o mesmo. Em conversa recente com um leitor brasileiro, fiquei surpreendida ao saber que os autores portugueses posteriores à independência do Brasil já não fazem parte dos curricula escolares brasileiros.
Mca
Não fazia ideia... de facto, é mesmo uma coisa sem explicação...
Há coisas que eu realmenete não atinjo...
Boa semana!!!
o que significa então ser a Bastilha da razão humana?
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