domingo, 26 de outubro de 2008

Memórias


Desde que li o post A Memória das Prisões, do Tomás Vasques, que tenho pensado (mais do que é costume) sobre as memórias da nossa história recente.

Já tinha, de facto, lido no jornal a intenção de transformar o antigo Forte de Peniche em Pousada, mas, tendo estado há pouco tempo no núcleo museológico ali existente em memória nos presos políticos que por lá passaram, tenho alguma dificuldade em compreender como se articulará uma Pousada como uma memória daquele tipo.

O movimento cívico Não Apaguem a Memória não tardou a tomar uma posição e, num comunicado à imprensa, criticou o que considera ser mais uma memória que se apaga. E, de facto, o que resta do projecto de resolução para criação de um Roteiro Nacional da Liberdade e da Resistência, memória da resistência em prol da liberdade e da democracia? O projecto do museu na Cadeia do Aljube?

Ficam, sem dúvida, as memórias documentais, existentes nas bibliotecas e arquivos, os projectos de investigação. Mas, quer para quem fez a passagem entre os dois regimes, quer para as gerações nascidas após o 25 de Abril, não seria mais benéfico o reconhecimen
to e estudo desse período da nossa história?

Não estando exactamente à espera de uma proposta à la Baltasar Garzón, resta-me aguardar por novos desenvolvimentos do projecto de Roteiro. E lembrar Memórias.
Como as relatadas em Por Teu Livre Pensamento. Histórias e memórias de 25 ex-presos políticos portugueses, de todas as áreas. Um notável trabalho de pesquisa documental e fotográfica, a que se acrescentam as fotografias actuais tiradas por João Pina. Os textos são de Rui Daniel Galiza. Vale a pena ver e ler.

2 comentários:

Unknown disse...

Olá minininha Nônô
Estou completamente de acordo! Nunca se podem misturar alhos com bugalhos – sob pena de uma estúpida tentativa, a existir, se transformar numa grande cagada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! (desculpem-me o termo)

Eu, que andei entre tratos e polés em tempo da antiga senhora, malfadada seja, e tive uns quantos Amigos ali enjaulados, não posso deixar de criticar esta hipótese/aborto. Uma peça essencial para a preservação da Memória Nacional não pode e não poderá ser sujeita a tal desaforo. E não será. Estou certo.

Mas é realmente excelente que tenhas feito um tal registo. As gerações mais novas desgraçadamente já não sabem, sequer, o que foi o 25 de Abril. E mesmo muitas das mais velhas, infelizmente, também.

E, da polícia política - ainda menos, se tal é possivel. Infelizmente - é. Por isso, Museus como este não podem ser substituídos por realizações turísticas, por melhores que elas venham a ser.

E, na mesma onda, porque não transformar o Palácio de Queluz num Centro de Congressos? Convivendo, é claro, com as instalações reais.

E porque não ainda completar as Capelas Imperfeitas para nelas acomodar um hotel de charme? Ao lado da Batalha, alojaria uns quantos turistas ou até homens de negócios. Com a crise financeira (e económica, o que, se calhar, é pior) que por aí vai, seria um excelente investimento para um qualquer grupo hoteleiro, com visitas guiadas ao túmulo do soldado desconhecido…

E porque não, ainda, quando se mudar o Museu dos Coches, utilizar estes para corridas no novo autódromo do Algarve. Ganhava-se, desculpem-me a expressão, a dois carrinhos: não era preciso construir um novo espaço museológico e dava-se uso às carripanas, salvo seja. Assim uma espécie de circo romano sem quadrigas mas com coches…

Fico-me por aqui, na esperança de que esta hipótese não passe de uma atoarda. Se for um pouco mais, relembro que de boas intenções está o Inferno cheio. Por antinomia, também deve estar de más.

Leonor disse...

Caro Henrique

Também não percebo... nem sei em que ponto vai o processo, mas o que é extraordinário é que esta semana li no Público que o tal Museu Salazar parece que vai avante porque a CM Santa Comba Dão fez um inquérito e diz que as pessoas da terra (e fora de), o único símbolo que indiscutivemnete tem de Santa Comba é o Salazar, portanto querem rentabilizá-lo.
Bom, estamos numa Democracia, portanto cada um tem o direito de fazer o que entende, mas se há dinheiro para um Museu ao Salazar, não há para outras coisas???

E, de facto, as novas gerações não sabem, não podem ter memórias...

Enfim, vamos ver o desenrolar de tudo isto...

beijinhos